Com base no texto de Samuel Beckett, «Pioravante Marche», os alunos do 3.º ano do Curso Profissional de Artes do Espetáculo - Interpretação, da Escola Secundária Tomás Cabreira, em Faro, subiram ao palco, nos dias 17 e 18 de maio, para interpretarem uma peça onde predominou a articulação entre palavra e movimento e entre o indivíduo e o grupo, procurando-se dar “corpo às palavras", de acordo com o dramaturgo e encenador Luís Campião. Segundo o professor de Voz e Movimento destes jovens, tratou-se de “um exercício onde o erro e a falha assumem particular importância no desenvolvimento do trabalho”. “Houve um especial enfoque no tentar outra vez, falhar outra vez, falhar melhor. O espetáculo pressupõe um intenso trabalho sobre a presença física (e viva) do ator em palco, bem como a consciencialização e construção de um corpo poético capaz de habitar o espaço e a ação, suscetível de um certo grau de imprevisibilidade que, no limite, procura capacitar e potenciar nos jovens atores um elevado estado de alerta para a integração, em tempo real, do erro e do imprevisto na cena”.

Dirigidos por Luís Campião, com Assistência de Raquel Meireles, em palco estiveram 17 jovens que estão a estudar há três anos com a representação nos horizontes, mas o processo que levou a «Pioravante Marche» foi mais importante do que o próprio espetáculo final, garantiu o professor após a estreia, bem-sucedida, no auditório da Escola Secundária Tomás Cabreira. “Lemos vários textos e acabamos por nos encantar por este do Samuel Beckett, que serviu de apoio para o desenvolvimento dos módulos de Voz e Movimento. Só mais tarde é que percebemos que tínhamos material para construir algo apresentável e nas duas últimas semanas concentramo-nos em realizar um apanhado do melhor que fomos fazendo ao longo do ano”, conta o docente.

Samuel Beckett é sobejamente conhecido por textos como «À espera de Godot» ou «Dias Felizes», com «Pioravante Marche» a constituir um dos seus últimos trabalhos, caracterizado por uma forma muito circular, à volta dos mesmos pensamentos e das mesmas mensagens. “Não conta propriamente uma história e permite-nos a exploração de diferentes tipos de «estar». Decidimos trabalhar com pouco movimento, com propostas simples e eficazes, sem serem simplistas. Do mesmo modo, escolhemos utilizar muitos silêncios, algo com que o grupo não estava habituado a trabalhar. Beckett pareceu o texto ideal para se construir esse espaço que é desconhecido”, apontou o entrevistado.

«Pioravante Marche» foi a base, mas houve total espaço para os vários alunos serem cocriadores, sob o olhar exterior de Luís Campião, no plano da voz e do movimento. “Nesta escola faz todo o sentido que os jovens sejam eles próprios os criadores das suas imagens, que procurem no texto aquilo que os move. Depois, preocupei-me que houvesse uma unidade na turma e em cima do palco, mesmo que alguns não queiram, depois, seguir a representação. A lógica, ao longo do ano letivo, é formá-los para serem atores e eles adquirem competências que não se aprendem noutras disciplinas”, sublinha o docente, satisfeito com o produto final que foi a palco nos dias 17 e 18. “Foram eles que escolheram este texto, sabendo que era um grande desafio estarem uma hora e meia sempre em ação, e em tensão, no sentido positivo, entre eles e com o público. O trabalho está desenhado para que eles possam estar vivos, acordados, despertos para qualquer coisa que possa acontecer, com uma grande margem de erro, de forma a não caírem em rotinas”.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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