A Sala de Exposições da CCDR Algarve, em Faro, recebe, até dia 30 de maio, a Exposição «160 Anos do Caminho-de-Ferro em Portugal», uma iniciativa conjunta da CP – Comboios de Portugal e da IP – Infraestruturas de Portugal. A inauguração da exposição, no dia 6 de abril, serviu também para o Vice-Presidente do Conselho de Administração da Infraestruturas de Portugal, Carlos Fernandes, apresentar o Projeto de Eletrificação da Linha do Algarve no âmbito no Programa Ferrovia 2020.

O projeto é parte integrante do Corredor do Algarve, um dos seis eixos de desenvolvimento prioritário, nos quais se incluem os projetos de investimento a concretizar para o horizonte 2014-2020. Será uma intervenção ao longo de 40 quilómetros deste eixo estruturante para a mobilidade da principal região turística de Portugal e desta com o restante território nacional e europeu, pelo que a sua modernização irá dinamizar a economia regional e nacional. Este investimento permitirá a exploração comercial exclusivamente com material elétrico, e outras melhorias que contribuirão para a eficiência do sistema, nomeadamente a redução no tempo de percurso e menores custos ambientais.


Carlos Fernandes, Francisco Serra e Abrantes Machado

No início da sessão, Francisco Serra, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, lembrou que o contributo do transporte ferroviário para o crescimento regional é muito significativo, daí a pertinência de se conhecer melhor a história dos 160 anos dos Caminhos-de-Ferro em Portugal. “A CCDR Algarve tenta contribuir para a divulgação do impacto económico e social dos transportes através de um sistema de monitorização cujos resultados publicamos trimestralmente, no nosso Portal dos Transportes. Do ponto de vista do «Portugal 2020», dos anteriores programas comunitários e daqueles que se seguirão, tentamos igualmente contribuir para este esforço de desenvolvimento por via do investimento desses fundos da União Europeia. As grandes infraestruturas são da responsabilidade de programas temáticos de nível nacional, contudo, há um conjunto de outras dimensões de investimento que têm a ver com o suporte a estas atividades, casos do património natural e cultural ou o sistema de inovação das empresas, que têm acesso a fundos comunitários”, explicou Francisco Serra. Para Abrantes Machado, administrador da CP – Comboios de Portugal, não há dúvidas de estarmos na presença de uma das marcas mais reconhecidas pelos portugueses, “ao permitir a mobilidade de largas centenas de pessoas e possibilitar-lhes uma alternativa de transporte fiável, segura e amiga do ambiente”. “A memória cultiva-se e esta exposição é a forma que temos para relembrar aos portugueses o papel que os caminhos-de-ferro têm tido no desenvolvimento socioeconómico do país, unindo pontos e pessoas. Mas os caminhos-de-ferro têm também um futuro, que todos nós desejamos que seja risonho, como recentes decisões têm permitido perspetivar ao lançar um grande plano de investimentos na infraestrutura ferroviária”, frisou Abrantes Machado. 

O Vice-Presidente do Conselho de Administração da Infraestruturas de Portugal, Carlos Fernandes

As atenções estavam, no entanto, concentradas na figura do Vice-Presidente do Conselho de Administração da Infraestruturas de Portugal, Carlos Fernandes, que iria fazer o ponto da situação do Projeto de Eletrificação da Linha do Algarve e do «Ferrovia 2020». “É, de certeza, um dos maiores programas de investimento nos caminhos-de-ferro desde há muitos, muitos anos. O «Ferrovia 2020» pretende aumentar a competitividade do transporte ferroviário, através da redução de tempos de percurso e de custos de transporte e do aumento da capacidade, tanto em termos do número como do comprimento dos comboios; quer melhorar as ligações internacionais, com o Corredor Internacional Norte (Leixões/Aveiro – Vilar Formoso) e o Corredor Internacional Sul (Sines - Caia) e potenciar a ferrovia na acessibilidade aos portos nacionais; e quer criar condições para a interoperabilidade ferroviária, por via da eletrificação, sinalização eletrónica, aumento do comprimento dos comboios de mercadorias para 750 metros e instalação de travessas polivalentes”, sistematizou, falando de um investimento global de dois mil milhões de euros ao longo de mais de mil quilómetros de linhas ferroviárias. “Este investimento está alavancado em fundos comunitários em cerca de 65 por cento, ou seja, mil e 300 milhões de euros, com os restantes 700 milhões de euros a provirem do Orçamento Geral de Estado”


No que toca à Linha do Algarve, a exploração comercial ferroviária até Faro iniciou-se em 1889 (na época designada de Linha do Sul), com a expansão da ferrovia até Vila Real de Santo António a concluir-se em 1906. A construção do Ramal de Lagos entre Tunes e Lagos ficou terminada em 1922 e, no mesmo ano, os troços Faro-Vila Real de Santo António (Linha do Sul) e Tunes-Lagos (Ramal de Lagos) foram reclassificados como Linha do Algarve. “Os objetivos do programa em curso passam pela eletrificação dos troços Tunes-Lagos e Faro-Vila Real de Santo António; reduzir o tempo de trajeto e permitir a utilização de tração elétrica pelos serviços regionais entre Lagos e Vila Real de Santo António; e aumentar a eficiência das condições de exploração e melhorar os padrões de segurança. Tudo isto envolve um investimento de 23,2 milhões de euros na eletrificação do troço de Tunes-Lagos e de 34,7 milhões de euros na eletrificação do troço Faro-Vila Real de Santo António”, revelou Carlos Fernandes.

Assim sendo, e de acordo com o Vice-Presidente do Conselho de Administração da Infraestruturas de Portugal, a conclusão da eletrificação da Linha do Algarve, com a extensão de 140 quilómetros de via-férrea, inclui a eletrificação do troço Tunes-Lagos (45 quilómetros) e do troço Faro-Vila Real de Santo António (56 quilómetros); adaptação e integração do troço Tunes-Faro eletrificado desde 2004; trabalhos acessórios para garantir as condições de eletrificação; a implementação do Retorno de Corrente e Terras de Proteção (RCT+TP); a instalação de vedações e redes de proteção em áreas específicas a eletrificar para garantir as condições de segurança; trabalhos de adaptação da sinalização e telecomunicações, designadamente Telecomando de Catenária, Instalação de Informação ao Público e Videovigilância; a materialização, a nascente da cidade de Olhão, de uma nova Subestação de Tração (SST) para alimentação do troço Faro-Vila Real de Santo António; e a ampliação da SST de Tunes, para alimentação do troço Tunes-Lagos.




A utilização de material circulante elétrico possibilitará a implementação de novos serviços nas zonas mais povoadas, de que é exemplo o eixo Faro-Olhão-Tavira, reforçando-se a qualidade do serviço e reduzindo-se o tempo total de viagem. “Para o Estudo de Procura considerou-se a possibilidade de realização de 32 comboios/dia adicionais num novo serviço suburbano/urbano Faro-Olhão, que levará a um aumento global da procura na ordem dos 15 por cento. Os benefícios económicos totais são muito significativos relativamente à economia no tempo de viagem, à redução de custos para os operadores ferroviários, à redução de acidentes e à economia de custos de recursos rodoviários e os benefícios globais poderiam ser ainda superiores se se quantificassem os ganhos com o aumento de fiabilidade da exploração e da segurança e benefícios do desenvolvimento nacional e regional”, entende Carlos Fernandes, garantindo ainda que os indicadores económicos apontam para a viabilidade do projeto em termos do impacto na sociedade e que os benefícios económicos são superiores aos custos económicos.

Quanto a prazos, os projetos dos dois troços – Tunes-Lagos e Faro-Vila Real de Santo António – estão em execução e deverão ser entregues às Infraestruturas de Portugal em agosto e julho de 2018, respetivamente. Se a Agência Portuguesa do Ambiente não exigir uma Avaliação de Impacto Ambiental, as empreitadas avançarão durante o segundo semestre do corrente ano, caso contrário, há que esperar mais seis meses para o início das obras. “A construção acontecerá entre 2019 e 2020, seguem-se os testes e certificações para que, no final de 2020, início de 2021, possam entrar em serviço estes dois troços”, assumiu Carlos Fernandes.

Texto: Daniel Pina