O NERA – Associação Empresarial da Região do Algarve e a AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve levaram a cabo, nos dias 15 e 16 de março, a Conferência «Inova Algarve 2020», dedicada às tendências e oportunidades da inovação empresarial em Portugal e na Europa. Participaram na iniciativa os Secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, Miguel Freitas, do Turismo, Ana Mendes Godinho, e das Pescas, José Apolinário, para além de especialistas de renome nacional ligados a instituições relacionadas com os setores da RIS3 ALGARVE (Turismo, Agroalimentar, Mar, TIC e Indústrias Criativas e Culturais, Energias Renováveis e Saúde, Bem-Estar e Ciências da Vida), bem como vários empresários que apresentaram e debateram a sua visão para a inovação regional.

Foram dois dias de intenso debate para os quais contribuíram igualmente o Presidente da AMAL, Jorge Botelho, o Presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo, o Reitor da Universidade do Algarve, Paulo Águas, o Presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, Francisco Serra e o representante da Comissão Europeia, João Faria. Mas foram mais as instituições regionais que não faltaram ao «Inova Algarve 2020», casos da Delegação Regional do Instituto do Emprego e Formação Profissional, da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve, da Região de Turismo do Algarve, do Centro de Apoio Empresarial do Sul – Algarve do IAPMEI e do CRIA – Divisão de Empreendedorismo e Transferência de Tecnologia da Universidade do Algarve. No âmbito desta iniciativa foram ainda apresentados o Barómetro para a Inovação no Algarve, o Estudo do Potencial de Inovação das Empresas do Algarve e o Roadmap Tecnológico nos Setores Estratégicos da RIS3 Algarve, alguns dos produtos do Projeto Inova Algarve 2020.

Ana Mendes Godinho, Secretária de Estado do Turismo, e Vítor Neto, presidente do NERA

A conferência contou com mais de 300 participantes, entre empresários, empreendedores, professores, investigadores e representantes de instituições regionais, comprovando as palavras de Vítor Neto sobre a importância deste projeto conjunto do NERA e AMAL. “Os empresários precisam ter consciência que a economia europeia e mundial estão a sofrer transformações muito profundas e seria um grave erro ignorarmos essa realidade e pensarmos que a situação acabará por se estabilizar. A inovação não é fundamental apenas para as grandes empresas, ou para aquelas que ainda estão por nascer, mas sim para todos nós”, avisou o presidente do NERA e antigo Secretário de Estado do Turismo. “Não podemos olhar para o lado e pensar que a inovação é uma simples moda passageira. Temos que assumir esse desafio com seriedade e cabe a cada um de nós, empresários, com a nossa inteligência e conhecimentos, descobrir de que forma podemos inovar para produzir em melhores condições e com maior qualidade, para corrigir as nossas estratégias, alterar os nossos procedimentos, para que sejamos mais competitivos”, prosseguiu Vítor Neto.

O dirigente enfatizou ainda o perigo de se «inventarem» soluções abstratas que sirvam a todos, uma vez que cada empresa é um caso diferente, com uma dimensão e recursos específicos. “Devemos ter coragem e inteligência para enfrentar esta realidade, caso contrário, teremos bastante dificuldade em manter a nossa atividade”, salientou Vítor Neto, antes de passar a palavra a Jorge Botelho, presidente da Câmara Municipal de Tavira e da AMAL. “Os fatores de competitividade da região interessam, como é natural, aos autarcas e estamos todos interessados em que o Algarve vingue, que consigamos ter economia e emprego todo o ano, em todos os setores e com uma forte componente de inovação. A única forma de termos uma região sustentável é que as nossas empresas sejam competitivas e ganhem mercado”, defendeu o edil tavirense.

Jorge Botelho, presidente da Câmara Municipal de Tavira e da AMAL

Jorge Botelho lembrou a existência de um Plano Intermunicipal de Alinhamento Estratégico Regional 14-20, onde já era entendida como uma prioridade a diversificação da base económica do Algarve, assim como uma utilização rigorosa dos poucos recursos comunitários disponíveis. “Queríamos fidelizar parcerias e ter, nos municípios, competências técnicas adequadas para ajudar as empresas e para que novas atividades aparecessem. Nesse sentido foi criada a Rede Investe Algarve, para a implementação de um sistema de respostas adequadas às necessidades dos empreendedores e empresários da região”, recordou, acrescentando que, desde então, têm sido realizadas sessões técnicas regulares, coordenadas pela AMAL, NERA, Universidade do Algarve e ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários, para se partilharem experiências e conhecimentos. “Esta conferência é um exemplo do trabalho de articulação que temos vindo a desenvolver nos últimos anos no âmbito desta rede e que se tem materializado em projetos concretos e em parcerias dinâmicas”, enalteceu.

No âmbito deste projeto foi igualmente efetuado pela AMAL um estudo estratégico sobre a evolução futura das tecnologias emergentes em dois domínios de especialização da RIS3, designadamente o mar e o setor agroalimentar, de modo a promover a incorporação de fatores de diferenciação nas empresas que as conduzam a um aumento da competitividade no mercado nacional e internacional. “A AMAL também promoveu a recolha constante de informação de base, científica e tecnológica, identificando oportunidades e tendências de mercado, e desenvolveu estudos de mercados com o intuito de promover o crescimento sustentado das PME do Algarve”, adiantou Jorge Botelho, estudos esses que foram apresentados no segundo dia da conferência «Inova Algarve 2020». “Estamos também a dar um contributo, em conjunto com o NERA e a CCDR, para a revitalização das áreas empresariais do Algarve, para o reforço da capacitação e da promoção das PME ali instaladas com base num modelo inovador de gestão e marketing. Mas o nosso trabalho passa igualmente por territórios mais sensíveis como os de Baixa Densidade, em parceria com as associações de desenvolvimento local, a Associação Terras do Baixo Guadiana, a Vicentina, a Sudoeste e a In Loco”, salientou o presidente da AMAL.

Parcerias devem dar lugar a plataformas

A conferência «Inova Algarve 2020» decorreu no Parque Empresarial de Loulé, o que constituiu um motivo acrescido de satisfação para Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé, que lembrou que a inovação, apesar de estar muito em voga, não é um conceito propriamente novo. “Os empresários sempre foram inovadores, sempre apontaram ao futuro, sempre viram na inovação o fator mais importante da competitividade do seu negócio. Os Municípios também não ficam fora desta corrente, deste novo cluster económico que está agarrado ao conceito da inovação, e temos inovado nas nossas experiências de gestão autárquica”, manifestou o edil louletano, dando os exemplos concretos do programa «Loulé Criativo» e do primeiro smart resort de Portugal – Vale do Lobo – onde a tecnologia está a ser aplicada à gestão desse território com ganhos de eficiência e de qualidade bastante positivos.

Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé

Quem também falou de inovação na sessão de abertura da conferência foi Miguel Freitas, Secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural. “Uma parte importante do nosso território está em risco de desertificação acelerada e é preciso perceber esta questão quando trabalhamos em matéria de inovação. Por outro lado, temos um território onde as paisagens alimentares se degradaram, ou seja, se tornaram incaracterísticas do que era típico do Algarve”, frisou o representante do governo, reconhecendo que a economia algarvia é de pequena escala e pouco diversificada. “Mas é com esta matriz empresarial que devemos trabalhar, com as suas fragilidades, mas também com o seu enorme potencial. Em simultâneo, temos fileiras agroalimentares e agroflorestais que são pouco permeáveis à inovação. Se olharmos para o panorama do Algarve e percebermos o que foram os instrumentos disponibilizados ao longo dos últimos anos para fazermos inovação, verificamos que apenas o Mar desenvolveu alguma articulação para criar um cluster a nível regional”, apontou ainda Miguel Freitas.

Laboratórios Colaborativos e Centros de Competências foram alguns dos instrumentos dinamizados pelo Governo para estes fins, assim como Grupos Operacionais criados pelo Ministério da Agricultura, e pouco disso se vê no Algarve, para pena do Secretário de Estado. “É necessário passarmos desta visão de parceria para uma visão de plataforma, isto é, a ideia de construirmos uma relação sólida entre as instituições. Normalmente o que se faz é criar parcerias difusas em que fazemos projetos com princípio, meio e fim. No entanto, é imperativo construir plataformas sólidas de relações institucionais que não dependem de um projeto em concreto, mas sim de uma visão de futuro”, apelou Miguel Freitas, que não concorda também com o conflito permanente no uso dos recursos. “Uma economia colaborativa em mercados de proximidade é essencial para o Algarve, que tem um grande mercado de consumo que deve ser aproveitado em tudo aquilo que fazemos. Mas é preciso também que haja uma economia contratual entre o Estado e as empresas para dar solidez, previsibilidade e estabilidade nas relações entre o trabalho que se desenvolve neste domínio da inovação”.

Vítor Neto e Miguel Freitas, Secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural

Explorar a economia circular no que toca às atividades agroalimentar e agroflorestal é outra ideia defendida de Miguel Freitas, contudo, para que tudo isto seja uma realidade, há que criar sistemas locais de inovação. “Como é que nós juntamos, com objetivos muito concretos, empresas, instituições, organizações, para resolver o défice que temos em matéria de inovação? É preciso trabalhar a inovação institucional, a inovação organizacional e a inovação tecnológica e dos produtos”, respondeu o Secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, indicando que a Dieta Mediterrânica é a ideia-chave para se evoluir nas paisagens alimentares. “E é no Algarve que temos as condições, físicas e sociais, para desenvolver o Observatório de Luta contra a Desertificação, uma estrutura prevista pelas Nações Unidas. Temos um longo caminho a percorrer e só com inovação é que esse trajeto terá futuro”, finalizou Miguel Freitas.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina