Estreou, no dia 26 de janeiro, no Teatro Lethes, a 74.ª
produção da ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve, «A Casa no Fim de Tudo»,
com texto de Luís Campião, encenação de Paulo Moreira e interpretação de
Alexandra Diogo, Bruno Martins e Glória Fernandes. A peça incide sobre o
quotidiano conjugal e amoroso de uma figura que se desdobra num homem e em duas
mulheres, propondo desconstruir estereótipos de género, e continua em cena até
dia 4 de fevereiro, com sessões de quinta-feira a domingo.
Sozinho/a em casa, das 5h às 19h, enquanto espera pelo
marido, a figura está presa obsessivamente às tarefas domésticas, numa lógica
de confronto consigo mesma até à conclusão de que algo tem de mudar
radicalmente na sua vida. O texto surgiu, curiosamente, depois do dramaturgo
ter assistido a um espetáculo, no Teatro Lethes, de Celina da Piedade e ter
reparado na ausência de uma música do alinhamento. “Fiz algumas experiências,
umas não resultaram, outras levaram-me imediatamente a outras, sempre tendo
como fio de condutor o conceito da «ausência», como é que alguém lida com ela.
Cheguei a uma criatura que vive numa casa, dedicada às tarefas do lar enquanto
espera pelo seu companheiro, envolvendo-se numa espiral de histórias e
sentimentos que ela própria vai criando enquanto está neste tempo suspenso”,
descreve Luís Campião.
Memórias, viagens ao passado e confrontos com a realidade
surgem naturalmente nesta longa espera entre as cinco horas da manhã – quando
se levanta para começar a preparar tudo para o parceiro – e as sete da tarde,
altura em que, se o dia correr bem, normalmente o marido chega a casa. Uma
figura interpretada por três atores, duas mulheres e um homem, retratando dois
casais heterossexuais e um casal homossexual. “Se, inicialmente, comecei por
trabalhar algumas ideias «cliché» que serviram de muleta para essa espiral de
acontecimentos até ao absurdo, depois interessou-me que essas tarefas
domésticas – normalmente associadas à figura feminina – fossem também
desempenhadas pela figura masculina. Quis ampliar o leque, sem abranger
totalmente a questão de géneros, porque isso obrigaria a peça a ter imensos
atores”, explica Luís Campião.
Depois do texto encomendado ter sido entregue à ACTA, o
diretor Luís Vicente chamou para a encenação o conhecido Paulo Moreira, que já
tinha dirigido um espetáculo de Luís Campião, e para a interpretação os atores
Bruno Martins e Glória Fernandes, rostos habituais de outras produções da ACTA,
e Alexandra Diogo, uma estreante no palco do Teatro Lethes. Selecionada a
equipa, foi meter mãos à obra, com Paulo Moreira a introduzir algumas
alterações ao texto original, como a opção por um espaço cénico vazio, ou seja,
sem cenários. “O texto anda por zonas tão diferentes, inclusivamente da dita
casa, que preferi ter um espaço neutro que depois seria preenchido pelos atores
e pelo seu jogo corporal”, justifica o encenador.
Texto: Daniel Pina |
Fotografia: Daniel Pina
Leia a reportagem completa em:
https://issuu.com/danielpina1975/docs/algarve_informativo__141
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