O Teatro Lethes recebeu, de 7 a 12 de novembro, «História do Cerco de Lisboa», uma adaptação do romance homónimo de José Saramago em cujo ponto de partida está um ato de rebeldia criativa: o revisor Raimundo Silva escreve um «não» nas provas de um livro de história onde se afirmava que, em 1147, os cruzados tinham ajudado os portugueses na conquista de Lisboa aos mouros. O transtorno causado na editora por este ato «inexplicável» serve de pretexto para que a gestora Maria Sara lance um desafio ao revisor: a escrita de um romance no qual a ficção se imponha à verdade histórica, isto é, no qual D. Afonso Henriques conquiste Lisboa sem a ajuda dos cruzados.
A ideia para este projeto surgiu, há mais de um ano, em conversa entre Rodrigo Francisco, do Teatro de Almada, e Luís Vicente, diretor da ACTA, e de imediato se avançou para uma parceria envolvendo pessoas que, embora se conheçam de longa data, nunca antes tinham trabalhado juntas em teatro. “O José Peixoto, por exemplo, foi meu professor quando eu era um jovem principiante. Que eu me recorde, nunca antes aconteceu realizar-se em Portugal um projeto com esta amplitude, com quatro estruturas significativas do teatro português a colaborarem numa criação artística com um sentido comum e com a direta participação dos seus respetivos corpos artísticos, técnicos, de gestão e de produção”, destaca Luís Vicente.
Outra diferença em «História do Cerco de Lisboa» é que os atores interpretam as personagens ao mesmo tempo que não deixam de mostrar que são atores a interpretar personagens, algo que acontece, de forma natural, à vista do público. Mas, antes de tudo, há José Saramago e o seu pensamento acerca da «questão ibérica». “Pareceu-me interessante esta colaboração entre as quatro companhias portuguesas com uma dramaturgia e uma encenação de colegas espanhóis. Embora a narrativa dramática tenha centralidade no cerco de Lisboa pelo D. Afonso Henriques, com o auxílio dos Cruzados – circunstância que é contestada pela personagem que interpreto, o revisor Raimundo Silva”, refere Luís Vicente, considerando que “os grandes autores constituem sempre uma boa oportunidade de partilha da existência humana, de reflexão acerca do desígnio humano e do afazer artístico”.
A peça é uma coprodução da ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve e da Companhia de Teatro de Almada, da Companhia de Teatro de Braga e do Teatro dos Aloés, estando a Encenação a cargo de Ignacio García e a Dramaturgia nas mãos de José Gabriel Antuñano. É interpretada por Ana Bustorff, Elsa Valentim, João Farraia, Jorge Silva, José Peixoto, Luís Vicente, Pedro Walter, Rui Madeira e Tânia Silva, com Cenografia de José Manuel Castanheira, assistido por Pedro Silva e pelos estagiários Filipe Fernandes, Francisca Castro, Inês Carrillo, Maria Luís e Sofia Lacerda. A música é de Ignacio García, os Figurinos de Ana Paula Rocha, a Luz de Guilherme Frazão e o Som de Miguel Laureano.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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