O Instituto de Telecomunicações (IT) desenvolveu, em parceria
com a Universidade do Algarve, novos componentes eletrónicos que permitem, pela
primeira vez, a medição da atividade elétrica de células cancerosas do sistema
nervoso. A tecnologia de medição foi testada em laboratório, com células
derivadas de tumores cerebrais de rato – do tipo astroglioma – e levanta novas
questões sobre a possível sinalização elétrica produzida pelos tumores e sobre
o seu impacto na fisiologia cerebral.
A equipa multidisciplinar observou que as células de um
tumor cerebral podem gerar atividade elétrica, que pode, por sua vez,
interferir com o normal funcionamento do cérebro e, eventualmente, contribuir
para crises epiléticas – que surgem, frequentemente, associadas a tumores
cerebrais. Neste sentido, a tecnologia possibilita o desenvolvimento de
terapias direcionadas para estas alterações de atividade elétrica, podendo
reduzir o impacto das crises epiléticas em pacientes oncológicos e melhorar,
significativamente, a sua qualidade de vida.
As células estudadas têm origem nos astrócitos, que existem
no cérebro e cuja função se pensava ser dar suporte funcional, metabólico e
estrutural aos neurónios. Contrariamente aos neurónios, os astrócitos eram
tidos como eletricamente silenciosos já que, até ao momento, os sensores
disponíveis só mediam sinais elétricos superiores a 10 microvolts. O segredo
dos novos transdutores eletrónicos ultrassensíveis reside na capacidade de detetar
sinais elétricos muito fracos, produzidos pelas células cancerosas, e que são
tipicamente inferiores a um microvolt.
O estudo é liderado por Henrique Gomes, investigador do IT e
docente no Departamento de Engenharia Eletrónica e Informática da Faculdade de
Ciências e Tecnologias da UAlg, em colaboração com Inês Araújo, investigadora
do Centro de Investigação em Biomedicina da UAlg. O projeto foi financiado pela
Fundação para a Ciência e Tecnologia e pelo Instituto de Telecomunicações.