Olhão recebeu o III Encontro
Internacional de Poesia ao Sul e no vasto leque de poetas de todo o mundo
presentes encontrava-se, igualmente, Tiago Nené, cujo último livro conquistou o
Prémio Literário Maria Amália Vaz de Carvalho. Dotado de um estilo muito próprio
de escrever poesia, o tavirense está a trabalhar em novos projetos e possui
mais três livros prontos a irem para o mercado, quando o momento for propício
para tal.
Texto: Daniel Pina |
Fotografia: Daniel Pina
Advogado e tradutor de profissão, Tiago Nené escreve desde
que se lembra, mas foi a partir de 2007 que começou a dedicar maior atenção à
poesia, tendo publicado, desde então, «Versos Nus» «Polishop», «Relevo Móbil
Num Coração de Tempo» e «Uma Prática para Desconserto», sob o pseudónimo Sylvia
Beirute. Em 2013, recebeu uma menção honrosa no Prémio Nacional de Poesia da
Vila de Fânzeres com o livro ainda por publicar «Nuvem com Superfície Variável»
e o ponto alto, se assim se pode dizer, da carreira aconteceu precisamente em
2017, quando venceu o 12.º Prémio Literário Maria Amália de Carvalho, na modalidade
de poesia, com «Este Obscuro Objecto do Desejo». “Aprendi muito com alguns
poetas da região quando passei a integrar o circuito literário do Algarve e foi
isso que me levou a escrever de uma forma mais séria e rigorosa. Já fiz um ou
dois contos, mas é na poesia que me sinto bem”, assume, em início de conversa.
Tiago Nené olha para a poesia pela perspetiva da sua
musicalidade, mas reconhece que não segue os padrões normais das quadras ou
sonetos, pelo que as suas criações são aparentemente livres. “Os meus poemas
não têm uma forma rígida quando os escrevo, mas na minha cabeça está bem
imaginada a sua musicalidade. Aquilo que mais gostaria de fazer era compor
música, mas não tenho essa habilidade e acabo por transportar esse desejo para
a poesia, que também é música”, revela, acrescentando que escreve, nos últimos
tempos, de acordo com projetos bem definidos sobre determinados temas. “O meu
livro mais recente tem o mesmo título de um filme de Luis Buñuel, realizado em
1977, em que a personagem principal é interpretada por duas atrizes diferentes.
Vi o filme em 2013 e senti uma inspiração muito grande de escrever sobre a dualidade
em torno do desejo, algo que só poderia ser feito através da poesia”, explica.
Ao não escrever poemas soltos, o mais complexo é criar uma
unidade coerente para as obras, mas há também que evitar as repetições, saber
bem para onde vai, esquematizar o alinhamento dos vários poemas. “Antes de dar
por concluído um poema, ele é lido e relido diversas vezes, em voz alta, para
ter a musicalidade que pretendo. Às vezes, depois de já ter sido publicado, se
pudesse voltar atrás ainda alterava uma palavra ou uma vírgula”, confessa,
antes de falar sobre o prémio conquistado, em 2017, com o seu mais recente
livro. “Não é por ganhar um prémio que a minha escrita passa a ser melhor e não
concorri por uma questão de prestígio. Simplesmente tornaria mais fácil o
processo de colocar o livro no mercado porque, para além do prémio monetário,
tinha um apoio à sua edição”, esclarece.