O Ciclo «Fémina» prossegue, no Cine-Teatro Louletano, e o mais recente capítulo esteve a cargo da fantástica Ana Bacalhau, que escolheu a cidade de Loulé para a sua estreia absoluta a solo, sem os restantes elementos dos «Deolinda» a seu lado. E o resultado é, francamente, de chorar por mais.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina


O Cine-Teatro Louletano apresentou, no dia 3 de novembro, a estreia de todas as estreias, nacional e mundial, do primeiro disco a solo de Ana Bacalhau, a vocalista dos «Deolinda», intitulado «Nome Próprio». Neste álbum, Ana Bacalhau conta com a ajuda de diversos compositores e amigos, nomes como Samuel Úria que escreveu «Só Querer Buscar», Jorge Cruz, que compôs «Leve Como Uma Pena», Nuno Prato, que lhe fez «Passo a Tratar-me Por Tu», mas também Afonso Cruz e o seu «Respirar», Nuno Figueiredo com «Morreu Romeu» e «Vida Nova», Capicua com «A Bacalhau», ou o «Ciúme» de Miguel Araújo, a «Dama da Noite», de António Zambujo e João Monge, «Maria Jorge», da Márcia, «Debaixo da Mosca», de Carlos Guerreiro ou «Para Fora», da Francisca Cortesão. Mas também houve espaço para os seus próprios originais, o «Só Eu» e «Menina Rabina», musicados por Janeiro e «Deixo-me Ir», escrita e composta pela própria Ana Bacalhau.
«Nome Próprio» vem concretizar um desejo antigo de Ana Bacalhau em prosseguir uma carreira a solo em paralelo com os «Deolinda», intento que vinha sendo adiado devido ao trajeto hipersónico da banda, mas também porque ainda não se sentia “suficientemente madura” para dar esse passo. “Em 2013, fiz uns concertos a solo, com versões de canções que me influenciaram, que fizeram parte do meu percurso, um universo tão vasto que vai de Pearl Jam a Amália Rodrigues. Comecei a perceber que seria possível conciliar o mundo da tradição portuguesa com a música anglo-saxónica e, depois, foi uma questão de esperar pela altura certa. Em 2017/18 vamos estar todos mais concentrados em projetos a solo e decidi avançar”, explica a artista, pouco depois de terminado o concerto no Cine-Teatro Louletano.
Uma hesitação e insegurança que contrastam com a sua maneira explosiva de estar em palco, onde é, sem dúvida, uma força da natureza, energia pura em constante movimento. “É verdade que tenho essa força e certeza em palco mas, fora dele, sou uma pessoa insegura e com medos como qualquer outra. É tudo isso que está retratado neste disco”, indica, confirmando que «Nome Próprio» não é um romper com a sonoridade característica dos «Deolinda». “A minha matriz, onde me sinto bem, é a trabalhar com a música de raiz portuguesa, mas aqui de um modo distinto, com outra instrumentação. Para além disso, escolhi autores que me dariam caminhos diferentes para percorrer”, refere.