Ao entrar-se em dezembro,
mês do Natal e Reveillon, parece que aumenta a atenção dos portugueses para os
seus conterrâneos mais carenciados, para aqueles menos bafejados pela sorte,
para aqueles que não têm uma refeição quente na mesa, muito menos prendas para
colocar no sapatinho dos filhos. E muitos dessas famílias passariam ainda por
mais dificuldades sem a ajuda das Instituições Particulares de Solidariedade
Social, como é o caso do Centro de Apoio ao Sem-Abrigo, mais conhecida por
C.A.S.A., que fomos visitar a Faro numa destas friorentas manhãs de
outono.
Texto: Daniel Pina |
Fotografia: Daniel Pina
O C.A.S.A. – Centro de Apoio ao Sem-Abrigo tem por objetivos dinamizar
ações de apoio básico e de primeira necessidade como são a alimentação,
vestuário, alojamento, fornecimento de mobiliário e utensílios domésticos; prestar
apoio técnico especializado nas áreas médica, jurídica, psicológica, etc; promover
ações que visem a integração social e profissional e, com isso, a independência
económica a favor de crianças, adolescentes ou outros socialmente
desfavorecidos ou vítimas de violência ou maus tratos. Não é, portanto, uma
IPSS vocacionada apenas para fornecer alimentos aos mais necessitados, embora
essa seja, de facto, a sua faceta mais visível, dando resposta a mais de mil e
500 pessoas, nos concelhos de Faro e Albufeira, através da distribuição de
refeições e cabazes alimentares a sem-abrigo, idosos e famílias carenciadas, mas
também deslocando diariamente equipas de apoio domiciliário para auxiliar os
utentes sem mobilidade e os mais idosos.
A esta vertente soma-se a distribuição regular de vestuário,
calçado, cobertores e artigos de higiene e muitas outras valências, conforme
nos explicou Isabel Cebola, uma das fundadoras, há mais de uma década, da delegação
do Algarve desta instituição. “Começamos na Rua Ataíde de Oliveira com uma
equipa de rua de oito pessoas, a dar alimentos a alguns sem-abrigo que andavam
lá a arrumar carros. Depois, mudamo-nos para perto do Moto Clube, à saída de
Faro, mas o espaço tornou-se pequeno com o decorrer do tempo e, há coisa de
cinco anos, viemos para a Rua Frei Lourenço de Santa Maria, onde reunimos todas
as valências com as quais trabalhamos no mesmo local”, explica, agradecendo de
imediato o apoio do proprietário do imóvel, a quem pagam uma renda meramente
simbólica.
Mais do que simplesmente entregar comida a quem dela
precisa, o projeto do C.A.S.A. procura que as pessoas mais desprivilegiadas se
sintam integradas na comunidade e participem de forma ativa no dia-a-dia da
sociedade, o que nem sempre é fácil. “Trabalhamos em estreita ligação com a
Ação Social da Câmara Municipal de Faro, a Segurança Social, o GATO – Grupo de
Ajuda a Toxicodependentes e outras entidades, que selecionam os possíveis
candidatos a receber a nossa ajuda. Como não recebemos apoios financeiros das
entidades competentes, tivemos que definir critérios e normas muito rigorosos
para escolher quem auxiliamos”, indica Isabel Cebola, durante uma visita guiada
às instalações. “Depois, as pessoas, desde que tenham saúde e que sejam
válidas, têm que contribuir para um banco de horas de trabalho voluntário e
comunitário para a instituição. Podem vir lavar roupa ou os tabuleiros em que
recebemos os alimentos, dar comida, fazer parte das equipas de rua, no total de
três horas semanais. No fundo, estão a trabalhar para elas próprias”, salienta
a entrevistada.
Isabel Cebola lembra que o C.A.S.A. possui também uma horta
social, cuidada pelos utentes, que depois ficam com metade dos seus produtos,
sendo o restante para distribuir pela instituição. Outros utentes tomam conta,
mediante um projeto dinamizado com a autarquia farense e a FAGAR, das
casas-de-banho públicas localizadas junto ao Jardim Manuel Bívar. “O objetivo é
reintegrá-los na vida ativa, que se sintam úteis, ao invés de virem aqui buscar
comida e estarem em casa a receberem, ao fim do mês, o subsídio a que têm
direito. Possuímos igualmente uma Loja Social onde as pessoas podem vir buscar
uma peça de roupa, em troca de um donativo de um, dois ou três euros, o mesmo
acontecendo com o Espaço C.A.S.A., com mobiliário em segunda mão”, descreve.