A esgrima portuguesa já viveu melhores tempos no contexto internacional e o Rio de Janeiro’16 serão os segundos Jogos Olímpicos consecutivos em que o nosso país não estará representado na modalidade. Isso não significa que não haja talento, antes pelo contrário, e Olhão, mais concretamente a Esgrimalgarve, é uma das maiores potências nacionais, sobretudo nos escalões jovens. Se depois vão mais longe ou não, depende da sua dedicação e empenho, mas também de uma aposta séria do governo na Esgrima.
 
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

A equipa da Esgrimalgarve esteve em grande destaque nos Campeonatos Nacionais de Esgrima que decorreram recentemente na Brandoa, trazendo para Olhão sete medalhas em masculinos e femininos, nas idades compreendidas entre os 13 e os 15 anos. Assim, liderados pelo professor Marco Rojo, Débora Jerónimo sagrou-se campeã nacional, Teresa Godinho foi vice-campeã nacional e Marília Gonçalves e Cristina Kaysyn ficaram em terceiro lugar ex-aequo, todas em sabre. No escalão masculino, Alexandre Graça é o novo campeão nacional de sabre, com Fernando Chumbinho a ocupar a segunda posição do pódio na mesma arma. A isso somou-se um terceiro lugar por equipas em espada, pela diferença mínima de um ponto para a medalha de prata.
Uma prestação de altíssimo nível que, porém, não veio interromper a rotina habitual dos cerca de 15 atletas da Esgrimalgarve, uma equipa que foi a evolução natural do clube de esgrima que existia na Escola EB 2,3 Dr. Alberto Iria, em Olhão, desde 2000, e que treina todas as segundas, quartas e quintas-feiras ao final da tarde. “Melhor era bastante difícil, porque levamos oito atletas e trouxemos seis medalhas individuais. Foram cinco raparigas e só quatro é que podiam subir ao pódio e, nos rapazes, foram três e dois ficaram no primeiro e segundo lugar”, analisa Marco Rojo, indicando que Alexandre Graça é o que está há mais tempo a treinar consigo, há cerca de quatro anos.  
O feito dos esgrimistas algarvios é ainda maior se percebermos que alguns deles jogaram contra adversários de um escalão etário acima do seu, já para não falar da batalha inglória que é preciso travar para se cativar atletas para esta modalidade. “A concorrência com o futebol é extremamente desleal e ainda bem que há alguns miúdos que não se interessam pela bola, ou que não têm muito jeito para ela, e optam por outros desportos. Como sou professor numa escola, convivo com eles todos os dias, alguns pedem para experimentar por curiosidade e vão ficando”, conta o treinador, sem esquecer o impacto que os resultados alcançados pela Esgrimalgarve tem junto dos mais novos. “Quando um destes atletas chega à escola, depois de uma prova que aconteceu durante o fim-de-semana, com uma medalha ao peito e fotografias dos sítios todos por onde andou, os outros ficam também com o bichinho. Tentamos sempre conciliar a participação nos torneios com atividades lúdicas e culturais. Se formos ao Porto, no regresso paramos em Conímbriga para eles conhecerem as ruínas. Se vamos a Mafra, visitamos ao Convento. Em Lisboa, vamos ao Parque das Nações, ao Centro Cultural de Belém ou à Fundação Calouste Gulbenkian. Queremos que eles saibam que há mais mundo para além de Olhão e do Algarve”, indica Marco Rojo.
Uma estratégia que tem surtido resultados mas que só é possível graças ao apoio concedido, desde 2015, pela Câmara Municipal de Olhão através da celebração de contratos-programa para a equipa participar em torneios internacionais. E assim se proporcionou que Alexandre Graça, Fernando Chumbinho e Débora Jerónimo tenham ido jogar a Barcelona, em abril, com Alexandre a ficar a meio da tabela, resultado muito bom na opinião do entrevistado. “Depois, foram visitar a Sagrada Família e o Estádio do Barcelona. Claro que os colegas depois também querem ir nestes passeios mas, para isso, têm que praticar esgrima e serem bons”, afirma Marco Rojo. “E antes disso já o Hélder Farroba (atleta em cadeira-de-rodas) tinha conquistado a medalha de bronze num torneio em Madrid”
Ser bom que, como se adivinha, não é para qualquer um, embora o professor reconheça que, às vezes, aparecem os tais prodígios, jovens que nasceram para a esgrima, que aprendem com grande facilidade e que têm um desenvolvimento motor acima da média. “Outros, naturalmente, sentem mais dificuldades no seu trajeto e eu, se tivesse que escolher entre um atleta muito trabalhador, e um muito talentoso, provavelmente escolheria o primeiro. A esgrima é uma modalidade extremamente difícil, exige um treino bastante intenso e obriga a uma capacidade de entrega e perseverança muito grandes”, avisa Marco Rojo, reconhecendo que muitos atletas se desmotivam quando as primeiras competições correm mal. “O bom atleta é aquele que já perdeu muitas vezes, é difícil começar logo a ganhar”.