O Teatro Análise de Loulé é um dos expoentes máximos da Casa da Cultura de Loulé, grupo amador com mais de três décadas de existência e com uma imensidão de peças levadas a cena com uma qualidade assinalável e de fazer inveja a muitos. Em comum a todas elas encontra-se o espírito de família que une atores e encenadores de várias gerações, um profundo amor por esta forma de expressão cultural e uma vontade de transmitir mensagens importantes e cativar os mais novos para o teatro. O Algarve Informativo foi até Loulé conhecer melhor a fibra de que são feitos estes homens e mulheres e para levantar um pouco a ponta do véu do que está para chegar em 2016.

Texto: Daniel Pina
Fotografias: David Piedade, João Pedro Espada e Martim Santos

O Teatro Análise da Casa da Cultura de Loulé apresentou, no dia 22 de novembro, a peça «Um conto de pernas para o ar», no Cine-Teatro Louletano, da autoria de António Clareza e com encenação de Ana Sousa. O texto conta a história de Algodãozinho, uma menina que vive algures na Floresta das Estrelas Cadentes e que quase todas as noites recebe no seu velho casebre a visita de pequenas estrelas que se perdem no imenso universo e que ali vêm em busca de uma ajuda. Uma peça vocacionada para os mais pequenos mas que encheu a plateia de miúdos e graúdos, como vem sendo apanágio das produções deste grupo amador nascido no seio da Casa da Cultura de Loulé há mais de 30 anos. E na impossibilidade de estar presente, foi alguns dias depois, melhor dizendo, algumas noites depois, que rumamos a Loulé para conversar com esta equipa de atores.
Depressa constatamos, contudo, que o termo «equipa» não seria o mais indicado para descrever o leque de homens e mulheres de várias idades que tínhamos pela frente, o mais correto será falar em «família», tal o espírito de união e fraternidade que encontramos naquela noite bastante friorenta. TAL que nasceu em 1981 e cujos primeiros dois anos de existência tenham sido de formação no Grupo de Teatro Laboratório de Faro, a única companhia profissional na época na região, com Luís Aguilar e Isabel Pereira. Em 1983 levam a cena a primeira peça mais a sério, «Um sonho no Reino da Formigarra», de José Teiga, um dos membros fundadores, a par de Joaquim Mealha Costa e Manuela Teiga. “Não existia nenhum grupo de teatro em Loulé e uma Casa da Cultura logicamente que necessitava de um. Havia pessoas que se interessavam mais pelo teatro, outras pelo desporto, e assim se constituiu o TAL”, recorda António Clareza, o responsável pela maioria dos textos encenados pelo grupo.
Se na génese esteve uma peça de teatro infantil, rapidamente o TAL entrou pelas restantes faixas etárias adentro, também com espetáculos dedicados à poesia e baseando-se muito no trabalho de autores nacionais e nos de sua própria criação, sendo os mais conhecidos Gil Vicente e António Aleixo. Outra característica que cedo se evidenciou foi a participação em diversos festivais e toda esta dinâmica ajudou a ter um núcleo duro regular e consistente, sempre apoiado na prata da casa, isto é, em elementos da Casa da Cultura de Loulé. “Nunca houve propriamente uma procura de atores e encenadores externos e conseguimos ter em atividade algumas dezenas de pessoas”, explica Sérgio Sousa, que dá um destaque extra ao «Auto da Vida e da Morte», de António Aleixo, produzido em 1985. “Foi escolhido para participar num festival de teatro a nível nacional, alcançamos um lugar extremamente interessante e o prémio foi um espetáculo no Teatro da Trindade, em Lisboa, com sala esgotada, foi uma coisa espantosa. Também marcamos presença regular noutro festival importante que se realizava em Évora, sempre com noites de grande sucesso”, conta.