O Cine-Teatro Louletano recebeu, no dia 6 de outubro, uma das mais prestigiadas companhias de dança portuguesas, a Companhia Paulo Ribeiro, que trouxe o espetáculo «Ceci n’est pas un film. Dueto para maçã e ovo», em que se revisita o tema da busca do amor, num diálogo interdisciplinar muito feliz entre dança, música e excertos de vários filmes.
Magistralmente interpretado por Ana Jezabel e João Cardoso, «Ceci n'est pas un film» não tem a intenção de ilustrar um filme em formato de dança. Pretende, sim, proporcionar uma viagem, um diálogo por imagens com passado, mas com futuro incerto. Imagens que conduzem ao dueto de maçã e ovo, que, por sua vez, sugere a elevação do amor. Amor que se torna possessivo, exigente, dependente, desesperado, exaltado, sufocante; mas também patético, cómico, trágico-cómico, lúdico, frívolo, virtuoso, sinuoso, cabotino e esvaziado. 
Sem narrativas fechadas, sem dramaturgia esmagadora, sem a obrigação de tudo perceber, os dois intérpretes em palco transportam o público para um mundo de sentidos que são os da vida na sua configuração mais simples de se afirmar. “Tinha vários excertos filmes para montar e optei por utilizar apenas cenas de duetos para criar uma espécie de narrativa que contasse pequenas histórias a dois. É uma narrativa muito solta, rítmica e lúdica, mas com a preocupação de ter uma certa coesão para falar do modo como duas pessoas se relacionam”, explicou Paulo Ribeiro, atual diretor artístico da Companhia Nacional de Bailado, em conversa com o público no final do espetáculo.
«Ceci n'est pas un film» é dotado, de facto, de uma paisagem sonora bastante intensa que deleitou a assistência e Paulo Ribeiro reforçou que a dança é sempre uma narrativa aberta e essa é, precisamente, a sua força, mas também a sua fraqueza. “Dá muito espaço ao público para construir a sua própria história, embora nós tenhamos o cuidado de definir a paisagem geral, para as pessoas não se perderem”, aponta. Quanto à aposta cultural que se faz na dança contemporânea, o cenário continua a ser, infelizmente, algo desolador. “As companhias de dança são programadas sempre a norte de Lisboa. A sul temos o Rui Horta, em Montemor-o-Novo, que oferece residências e, depois, só há Loulé. Algumas companhias portuguesas conseguem manter-se porque circulam no estrangeiro mas, com a rede de teatros que existe em Portugal, exigia-se mais e melhor”

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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