Inserido nas comemorações do Dia Internacional das Pessoas Idosas, a Câmara Municipal de Loulé promoveu, nos dias 12 e 13 de outubro, um Encontro e uma Feira subordinados à temática do envelhecimento ativo e saudável. O objetivo foi refletir sobre as principais tendências demográficas, suas consequências e soluções para um envelhecimento saudável e com dignidade. Nesse sentido, o auditório da Escola Secundária de Loulé acolheu, ao longo do dia 12, um coletivo de vários especialistas que debateram as políticas de apoio ao envelhecimento ativo e perspetivaram um futuro onde se viva com qualidade física, mental, afetiva e social.
Na sessão de abertura do Encontro, Margarida Flores, Diretora do Centro Distrital de Faro da Segurança Social, lembrou o Artigo 72.º da Constituição da República Portuguesa, onde diz que «as pessoas idosas têm direito à segurança económica e a condições de habitação e convívio familiar e comunitário que respeitem a sua autonomia pessoal e evitem e superem o isolamento ou a marginalização social». A responsável lamentou que, mesmo nos dias atuais, o envelhecimento seja olhado com alguns equívocos, considerando-se, por exemplo, que as pessoas idosas têm todas personalidades difíceis e são complicadas, ou que ser velho é sinónimo de ser doente, incapacitado ou pobre. “É uma verdade que a pirâmide etária que conhecemos está em acelerada e preocupante transformação, que nascem poucas crianças e que os avanços da ciência permitem uma maior longevidade, o que nos deve fazer refletir seriamente sobre este tema. Portugal vai perder população, o número de idosos vai continuar a aumentar e a população em idade ativa seguirá em sentido inverso. Por isso, há que pensar urgentemente no envelhecimento de forma estratégica”, defendeu.
A Diretora do Centro Distrital de Faro da Segurança Social recordou que a Organização das Nações Unidas instituiu o Dia Internacional da Pessoa Idosa em 1991, com o objetivo de sensibilizar a sociedade para as questões do envelhecimento e a necessidade de proteger e cuidar a população mais idosa. Mais tarde, em 2002, a Declaração Política e o Plano de Madrid de Ação Internacional sobre o Envelhecimento revigoraram o consenso político em torno de uma agenda sobre o envelhecimento, enfatizando o desenvolvimento, a cooperação internacional e a assistência nesta área. Novo salto no tempo e, em 2014, o Conselho da Europa emitiu orientações sobre o direito ao trabalho, à saúde, à participação e igualdade de oportunidades ao longo da vida, salientando a importância da participação dos idosos em processos de decisão em todos os níveis. No ano seguinte foi criada, em Portugal, a Estratégia de Proteção ao Idoso, que estabeleceu compromissos para implementar medidas que garantam o reforço dos direitos dos idosos.
Já este ano decorreu, nos dias 20 e 21 de setembro, uma Conferência de Ministros sobre Envelhecimento, onde foi aprovada a Declaração de Lisboa que definirá as linhas orientadoras dos 56 Estados Membros da Comissão Económica da Região Europa das Nações Unidas para os próximos cinco anos. “Se, por um lado, importa encetar esforços para reequilibrar a pirâmide etária, por outro, é necessário criar condições de dignidade e conforto para os que envelhecem. Temos novos problemas e precisamos procurar novas soluções”, defendeu Margarida Flores. “Hoje, falamos de envelhecimento ativo e saudável e começamos a colocar de lado a questão da institucionalização do idoso. Está-se novamente a apostar em respostas como o serviço de apoio domiciliário, porque os idosos querem ficar nas suas casas, querem manter a sua qualidade de vida, querem ficar junto dos seus familiares, amigos e vizinhos. No Algarve, há dois concelhos onde os Centros de Dia continuam ocupados a 100 por cento, os outros estão a ficar vazios”.

Paulo Morgado, presidente da Administração Regional de Saúde do Algarve e Margarida Flores, Diretora do Centro Distrital de Faro da Segurança Social

Os tempos são, de facto, de repensar o que tem sido feito até à data, porque, conforme referiu Margarida Flores, “todos queremos viver muito tempo, mas não queremos ficar velhos”. “O envelhecimento pode ser uma potencialidade para o Algarve, vemos isso junto da comunidade estrangeira, que gosta do nosso sol, da nossa gastronomia, do nosso estilo de vida. E se tivermos cá mais idosos, precisamos de pessoas habilitadas para cuidar delas, que vão viver no Algarve, que vão ter os seus filhos a estudar no Algarve”, sublinhou a Diretora do Centro Distrital de Faro da Segurança Social, antes de deixar umas propostas de pensamento para a Rede Social. “O que é para mim o Envelhecimento Ativo? Qual a importância da família? E da figura do «cuidador»? Nos últimos anos, devido à crise que o país atravessou, muitas famílias foram buscar os seus idosos aos lares porque precisavam da reforma deles. Voltaram a ter os idosos em casa e ressurgiu o fenómeno da violência sobre o idoso, uma pessoa frágil, completamente dependente”, alertou.

Viver é envelhecer

Seguiu-se a intervenção do presidente da Administração Regional de Saúde do Algarve, que de imediato disse que “viver é envelhecer”. “O viver mais anos é um grande desafio para a sociedade, para todos os subsistemas, públicos ou não, para a economia, para as famílias. É uma situação que começa a colocar alguma pressão nas sociedades, sendo necessário criar cada vez mais serviços para dar resposta às necessidades das pessoas”, confirmou Paulo Morgado, avisando, contudo, que os cuidados com o envelhecimento não devem começar apenas quando essa fase da vida está ao virar da esquina. “Uma pessoa é muito mais do que o número de dias em que está vivo. Ninguém está livre de ter problemas de saúde, familiares ou financeiros e a idade é somente mais uma característica que define a nossa globalidade”, justificou.
Para Paulo Morgado, começamos a envelhecer no dia em que nascemos, motivo pelo qual o trabalho necessário para se viver mais anos, e com qualidade, deve principiar logo durante a gravidez. “O que uma mulher come durante a gravidez, como é a sua vida, o stress a que está sujeita, tudo é importante. Depois segue-se a infância e a adolescência, fases críticas que têm consequências na forma como as pessoas chegam a velhos. E ser ativo é fundamental para termos qualidade de vida”, enfatizou o orador, acrescentando que a ARS Algarve tem um conjunto de respostas dirigidas às pessoas sobre esta importante matéria. “Uma das consequências de termos mais pessoas idosas é termos, também, por exemplo, mais pessoas com demências e o nosso sistema de saúde e de segurança social não tem respostas específicas em quantidade suficiente para esse problema. É possível fazer muita coisa, temos várias armas para ajudar as pessoas, mas o contato humano com técnicos especializados é fulcral, assim como o apoio das famílias. Acredito que será possível desenvolver, em Portugal, um conjunto de estruturas para este grupo de cidadãos com necessidades específicas”.
De volta ao início da questão, ao «viver é envelhecer», o presidente da Administração Regional de Saúde do Algarve abordou a importância de se ter uma alimentação saudável desde tenra idade e lamentou que a sociedade moderna esteja a ser contaminada com hábitos de consumo desadequados, mercê de uma publicidade agressiva por parte da indústria alimentar. “Numa região onde temos uma alimentação mediterrânica, que até é considerada Património Imaterial da Humanidade, constatamos o aumento do número de obesos, mesmo nos jovens e nas crianças. É obrigação de todos nós preocupar-nos com isso, porque o açúcar e o sal adicionados nos alimentos têm um impacto muito sério nas chamadas doenças crónicas que agravam os problemas que a idade já de si traz”, apontou Paulo Morgado.

Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé, e o ex-vereador João Martins

A encerrar a sessão de abertura do primeiro encontro sobre envelhecimento ativo no concelho de Loulé, Vítor Aleixo destacou a preocupação da sua equipa autárquica com as políticas direcionadas para as pessoas e para a coesão social. “Há um olhar sistemático, atento e planeado, com políticas diferentes dirigidas aos vários segmentos que compõem a nossa comunidade. Temos uma vasta equipa de técnicos bem apetrechados para lidar com as questões dos mais idosos, porque é na dimensão local que as coisas verdadeiramente acontecem, ou não”, referiu o presidente da Câmara Municipal de Loulé. “Acreditamos que estamos no bom caminho, refletimos, aplicamos medidas, os órgãos funcionam, não reúnem por reunir. As IPSS são convocadas para o CLAS, construímos políticas em diálogo com as instituições e os resultados começam a aparecer. Temos que viver dignamente desde o dia em que saímos do ventre materno até ao dia em que os nossos restos mortais são devolvidos à terra. Infelizmente, na sociedade moderna, o modo como a economia funciona é pouco amigável da vida em família, mas devemos dar aos idosos tempos de vida gratificantes e dignos”, reforçou o edil louletano.
Terminadas as intervenções institucionais, houve depois lugar a várias mesas redondas, onde estiveram em foco assuntos como «Serão as cidades espaços amigáveis para as pessoas idosas?» e «Envelhecimento, Saúde e Bem-Estar», para além das oficinas temáticas «Alimentação para um envelhecimento saudável» e «Yoga do riso – O riso é mesmo bom para a saúde?». No dia 13 de outubro, o Parque Municipal de Loulé foi palco da Feira de Envelhecimento Ativo, com jogos tradicionais, exposição de brinquedos, beleza e imagem, promoção da saúde, teatro, música e yoga ao dispor dos visitantes.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina