Foi inaugurada, no dia 4 de
agosto, a exposição «Viagem Interior», de Telma Veríssimo, um documentário
sobre a desertificação e despovoamento no Algarve que ficará patente, até final
do mês, nas sedes da CCDR e IPDJ de Faro. Ao todo, são 67 painéis com
fotografias que captam de imediato a atenção do público, apoiadas por textos
que alertam para esta realidade que está a tomar conta do interior da região
algarvia.
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Telma Veríssimo
Os edifícios-mãe da Comissão de Coordenação e
Desenvolvimento Regional do Algarve e do Instituto Português do Desporto e
Juventude do Algarve acolhem, até 29 de agosto, a exposição «Viagem Interior», da
fotógrafa Telma Veríssimo. Promovido pela Associação Bons Ofícios com o alto
patrocínio da Assembleia da República, o documentário fotográfico incide sobre
a desertificação e despovoamento no Algarve, uma realidade a que
muitos ainda permanecem alheios.
Nos tempos modernos, é impossível impedir a fuga para o
litoral à procura de melhores condições de vida, do mesmo modo que o
envelhecimento da população e o desaparecimento de serviços essenciais nas
povoações mais pequenas são difíceis de inverter. O resultado deste cenário é o
abandono gradual das terras e a negligência das zonas florestais, mas também o
desaparecimento de conhecimentos ancestrais e de tradições locais. Este ciclo
tem-se intensificado nas últimas décadas e motivou Telma Veríssimo a embarcar
no projeto «Viagem Interior», que propõe uma reflexão sobre as dificuldades atuais
do Algarve menos conhecido, daquele mais afastado da costa. “A ideia surgiu
depois de ler uma notícia que afirmava que, daqui a algumas décadas, vai haver
deserto no Algarve, e que me recordou outra notícia, de há 20 anos, que
alertava para o mesmo perigo. É um assunto do qual não se fala muito. As
pessoas concebem o despovoamento mas, quando se fala de desertificação, ficam
logo de pé atrás, parece que isso só se passa no Sahara”, comenta Telma
Veríssimo, poucos minutos antes da inauguração da exposição no IPDJ, em Faro.
Da ideia para a prática foi uma questão de “meter o nariz no
terreno”, de procurar evidências dessa desertificação e despovoamento, dois
fenómenos intimamente ligados e que não acontecem apenas no interior do
Algarve, no barrocal ou na serra, como se possa imaginar à partida. “Vila do
Bispo, por exemplo, também sofre desses problemas, apesar de ser junto ao mar,
mas o interior é, de facto, mais preocupante. Está todo a ficar mais
empobrecido em termos de pessoas e de recursos naturais”, avisa a entrevistada,
que procurou registar imagens que preservassem a memória de um mundo que está a
desaparecer. “Na exposição vemos fotografias de muitas pessoas idosas que,
quando morrerem, já ninguém viverá como elas viveram até aqui. São tradições e
hábitos que se estão a extinguir”.