Passado mais de um ano encerrado para ser alvo de uma
intervenção profunda, na ordem dos 120 mil euros, o Café Calcinha abriu portas,
no dia 14 de julho, naquele que foi mais um momento marcante para a história de
Loulé, com muitos louletanos a quererem conhecer a nova imagem deste
emblemático espaço de tertúlia da cidade. Um Calcinha “com todo o seu
esplendor, absolutamente recuperado, lindíssimo e com uma atmosfera
fantástica”, como referiu Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de
Loulé.
As obras visaram reabilitar o local cuja memória se funde
com a vida e obra do poeta António Aleixo, que ali escreveu grande parte das
suas quadras, mas mantendo a sua traça e mobiliário originais, nomeadamente as
cadeiras e mesas de madeira e mármore, com o modelo do início do século XX, e
os candeeiros Art Deco, entretanto recuperados. A exploração do espaço,
propriedade da Autarquia, foi concessionada a três jovens empresários da cidade
(João Apolónia, Bruno Inácio e Tiago Soares), através de um concurso público.
Em termos conceptuais, o Calcinha continuará a funcionar como um
estabelecimento misto de restauração e bebidas, agora também com alguma programação
de âmbito social e cultural. Apresentação de livros, tertúlias, debates,
momentos musicais serão algumas das propostas que irão dinamizar aquele que é
um dos cafés que integra a «Rota dos Cafés de Portugal com História».
Até ao mês de setembro, o Café Calcinha estará em fase de
pré-abertura, período durante o qual a gerência pretende adequar o espaço ao
seu funcionamento ideal, acrescentando gradualmente um conjunto de produtos e
serviços que irão de encontro à preferência dos clientes. “Estes jovens
empreendedores têm as melhores referências e tenho a certeza que, com a
exploração deste espaço, vão dignificar em muito a memória do Calcinha e vão
dar um contributo muito importante para a reanimação do sentido urbano desta
cidade”, considerou Vítor Aleixo.
O autarca aproveitou este momento importante da vida do
Calcinha para recordar outros que também marcaram a sua história, nomeadamente
a inauguração, em 1996, da escultura de António Aleixo, da autoria do Mestre
Lagoa Henriques, e que foi apadrinhado com a presença de Mário Viegas, ator,
poeta, dramaturgo. “Não podemos esquecer que este espaço está em muito ligado à
figura do poeta Aleixo, meu avô, que regularmente convivia neste espaço com os
seus amigos e bebia diariamente o seu galãozinho. Se recuarmos na memória, se
formos fazer a história deste espaço, ele está cheio de momento culturais e
sociais muito interessantes ligados à melhor memória dos louletanos que amam a
sua cidade”, afirmou o presidente da Câmara.
Localizado no centro de Loulé e no eixo comercial mais
importante, o Café Calcinha foi durante o último século, e até aos dias de
hoje, um marco sociocultural da população local e de todos os visitantes, sendo
o único espaço de tertúlia na história da cidade, que lhe configurou o privilégio
de ser o estabelecimento mais emblemático e referenciado na história local,
integrando a «Rota dos Cafés de Portugal com História». Ao longo das décadas e
no decurso da sua já longa história (foi implantado em 27 de agosto de 1927),
muitos foram os nomes importantes da vila que o frequentaram e mais as
histórias que por lá se contaram, de geração em geração, entre as tertúlias, os
cafés, o medronho, o capilé ou a ginjinha e as cigarrilhas ou onças de tabaco.
Dele fizeram parte figuras de prestígio da vida pública
louletana e nacional, destacando-se Frutuoso da Silva, Bernardo Lopes, Bexiga
Peres, Pedro de Freitas, Reais Pinto, José Inês ou Joaquim Magalhães. Mas
nenhum deles, porém, atingira a notoriedade de António Aleixo, que se destacou
pelas suas réplicas mordazes e subtis em quadras soltas e sábias; no exterior
foi colocada uma estátua em bronze, numa homenagem mais do que justa ao poeta
popular. É hoje um dos cartões-de-visita da cidade, sendo a sua fachada e o seu
interior retratados em muitos folhetos turísticos e internet como ex-líbris de
Loulé. Em 2012, foi classificado como Imóvel de Interesse Municipal e, em 2014,
a Câmara Municipal de Loulé adquiriu este edifício, pelo valor de 180 mil
euros.