O Festival Internacional de
Albufeira começou da melhor forma, no dia 23 de março, com «O Sal de Marim»,
pela Companhia de Teatro Contemporâneo de Albufeira, recordando a figura de Felipa de Sousa,
tavirense que dá nome ao principal Prémio Internacional dos Direitos dos
Homossexuais. A noite contou igualmente com uma emotiva homenagem de Luís Ene
ao falecido ator Rui Cabrita.
Texto: Daniel Pina |
Fotografia: Daniel Pina
O Auditório Municipal de Albufeira foi palco, no dia 23 de
março, da abertura da 10ª edição do Festival T – Festival Internacional de Teatro
de Albufeira, com a noite a iniciar-se com uma pequena homenagem de Luís Ene a Rui
Cabrita, falecido a 26 de dezembro do ano transato. Ator e encenador, com um
vasto trabalho em várias áreas ligadas ao teatro, Rui Cabrita chegou a
colaborar em duas situações com a c:t:c – Companhia de Teatro Contemporâneo, a
organizadora deste festival criado em 2006.
Seguiu-se o primeiro espetáculo de cinco dias dedicados ao teatro
na capital do turismo algarvio, «O Sal de Marim», da c:t:c, com encenação e
texto de Luísa Monteiro e interpretações a cargo de Cátia Cassapo, Josefa Lima,
Larisa Maria e Cheila Correia, com técnica de Miguel Martinho. A peça parte da
contemporaneidade para relevar a figura de Felipa de Sousa, mulher de Tavira
que personifica o principal prémio internacional dos direitos dos homossexuais.
Como pano de fundo, estão as sucessivas condenações das mulheres homossexuais
desde o degredo de Marim, pelo Santo Ofício, passando pelas casas de correção,
as casas de saúde mental onde a prática mais comum era a dos choques elétricos,
até aos encarceramentos nas caves por parte das próprias famílias.
O trabalho dramático resulta de pesquisas documentais e de
testemunhos vivos de quem viveu essas realidades e é a segunda incursão de
Luísa Monteiro sobre o tema da homossexualidade, depois de «As lágrimas amargas
de Petra Von kant», de Fassbinder. “Penso que as mulheres homossexuais estão
muito sozinhas, fechadas, no nosso país e isso não as defende em nada. Basta
pensar que há muitos casais de namoradas ou em comunhão de facto ou mesmo
casadas, onde a violência é imensa”, referiu a diretora da c:t:c:. “O mundo colocou
as mulheres homossexuais num certo isolamento e a insegurança acaba por gerar
ainda mais insegurança. Em grupo, são quase sempre fortes, contudo, quando o meio
é reduzido, nas suas casas, longe dos olhares, a violência instala-se, seja ela
física, ou simplesmente a perseguição, o controlo, a chantagem emocional, a
tortura psicológica”, observa.
Para combater esta realidade nasceu «O Sal de Marim», cuja
base foi, de facto, a documentação histórica existente sobre Felipa de Sousa, a
que se somaram, depois, testemunhos de mulheres que foram mais ou menos
próximas da própria Luísa Monteiro. “Estão todas vivas excetuando uma agradeço-lhes
imenso, eu e todas as gerações que lhes sucedemos, independentemente da
orientação sexual de cada uma. Não são heroínas, apenas sobreviventes e
mereciam uma estátua nos jardins como os sobreviventes da guerra”.
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