No dia 13 de Abril, o Museu de Portimão recebe a última
iniciativa do projeto «Fazer Render o Peixe em Portimão», fechando com chave de
ouro este ciclo de arte e gastronomia iniciado em outubro. Pelas 18h serão
inauguradas as exposições «Natureza-Morta em Movimento» de Douglas Fitch, e «Cirúrgico»,
de Filipe Lucas Frazão, ao que se seguirá o jantar da autoria do chef Gilles
Stassart.
Douglas Fitch, renomado e multifacetado artista americano,
cuja carreira cobre diversas áreas desde a arquitetura à cozinha, passando pela
ópera e pelas artes cénicas, presenteará o público com uma curta-metragem,
resultante de uma sessão de filmagem no restaurante São Gabriel, em Almancil, e
que contou com a colaboração de Cynthia McVay, a técnica de animação Marina
Estela Graça (docente na Universidade do Algarve) e o chef Leonel Pereira. Este
pequeno filme em stop motion caracteriza-se por os produtos que compõem a
despensa de um restaurante de referência surgirem literalmente como elementos
plásticos, simulando cinematograficamente uma natureza-morta animada.
A obra, que vai beber a uma enorme tradição nas artes, em
Portugal celebrizada por Josefa de Óbidos, ultrapassa os limites técnicos
estabelecidos na pintura, para revelar no vídeo um aspeto humorístico de
entretenimento e espetáculo que tradicionalmente não possui, mas a que não é alheio
o percurso deste polivalente autor enquanto diretor artístico e marionetista. A
esta vertente, Doug Fitch acrescenta ainda a conjugação de três técnicas
díspares: a fotografia, a pintura e a escultura, que convergem num ciclo de
mutações entre a realidade e a «história» ficcionada. Assim, ao fazer recurso
de todos os media numa mesma exposição, Fitch concilia a mais longa tradição
das artes com a mais contemporânea das abordagens.
Filipe Lucas Frazão, nascido nas Caldas da Rainha, tem-se
dedicado à fotografia e ao styling de comida. Inserido na tendência da Food
Porn, o blogue que alimenta, intitulado Chilli com Todos, é um dos pioneiros em
Portugal dessa maneira íntima, sensual e suculenta com que se fotografam
receitas e produtos. «Cirúrgico» correspondeu a um desafio de documentar a
pesca grossa algarvia, desde o registo do desmancho de atum na fábrica
Conservas Dâmaso, em Vila Real de Santo António, passando por outras visitas a
locais emblemáticos associados a este peixe com a respetiva confraria regional,
até ao acompanhamento a chefs na cozinha, assistindo à preparação e
empratamento dos seus respetivos pratos. Registar o percurso do peixe desde o
primeiro corte foi o ponto de partida. Uma linha de tempo que começa com o
recurso à força e à mestria progressivamente acumulada e que termina com a
elaboração ponderada e quase introspetiva do prato final pelas mãos do chef.
Pelas 20h realiza-se o jantar a cargo do chef Giles
Stassart, figura da arte e gastronomia francesas, que se propõe brindar-nos com
um menu de degustação que concilia a finesse da cozinha gaulesa com o melhor
peixe e marisco algarvios. O jantar terá um preço de 70 euros e consistirá numa
entrada de bisque de camarão ou lagosta com mousse e um apontamento de cacau em
pó, seguida de um duo de ostras, uma em gelatina de água do mar e ervas locais
e outra em vinho branco e zabaione. Como pratos principais apresenta-nos polvo
em tempura de chili com tempura de batata-doce e concha de navalheira ou
lingueirão com raspa de limão e amêndoa em creme de alho; atum braseado com
crosta de amêndoas e molho de romã e peixe local; e galinha em ballotine recheada
com camarão e cogumelos e puré de ervilhas e cenouras fumadas. Um delicioso
sorvete de pepperoni e laranja, seguido de queijo e doces locais, servirão para
limpar o palato e abrir caminho para a sobremesa, um nougat glacé de mel com
uma nougatine de amêndoa e amendoim e creme de batata-doce com chá earl grey.