O Museu de Arte Contemporânea de Serralves leva à cidade de Faro a exposição «José Pedro Croft: De um lado ao outro». A mostra é mais um capítulo da parceria entre a Câmara Municipal de Faro e a Fundação de Serralves e estará patente, até 28 de maio, no Museu Municipal de Faro.

Texto: Ricardo Nicolau

A exposição «José Pedro Croft: De um lado ao outro» faz parte do intenso programa de exposições itinerantes que o Museu de Serralves desenvolve e que tem como grande objetivo tornar a Coleção de arte contemporânea de Serralves acessível para além das portas do Museu, permitindo assim o alargamento da rede de acesso e de aproximação das populações à arte e à cultura. As 15 obras presentes cobrem os períodos mais relevantes da carreira de José Pedro Croft (Porto, 1957) pertencentes à Coleção da Fundação de Serralves e que sublinham as principais preocupações e metodologias do artista.
Com uma carreira artística iniciada nos anos 1980, Croft é um dos escultores contemporâneos mais preocupados com uma abordagem crítica à ideia de monumentalidade, à tradição da estatuária e à relação da arte com a arquitetura. A quantidade e diversidade de esculturas e desenhos incorporados na Coleção de Serralves é um reflexo da relevância do artista na história recente da arte contemporânea portuguesa. A sua obra representa a renovação da escultura nos anos 1980, estabelecendo uma ponte entre as práticas modernistas abstratas, as especificidades materiais e o interesse pós-moderno em processos de inclinação, equilíbrio e até queda.
Estas preocupações são particularmente evidentes nas suas obras mais recentes que recorrem ao espelho para devolver a imagem do visitante e confundir os limites das esculturas com a arquitetura envolvente. A importância e complexidade do percurso artístico de Croft, recentemente reconhecido com o convite para representar Portugal na Bienal de Veneza 2017, são sublinhados nesta exposição através de quatro temáticas fundamentais: Monumento e Morte; Domesticidade e Mobiliário; Espelhos e Vidro; Desenho e Gravura.
A prática de Croft cedo se distinguiu pela forma como se dedicou quase exclusivamente a um único meio, a escultura, e pela originalidade com que integrou na sua obra matérias industriais, quotidianas, caseiras: utensílios domésticos, mobiliário, perfis industriais de metal, espelhos e vidro. Nos últimos anos, as suas esculturas tornaram-se «máquinas percetivas», que emprega o espelho para destabilizar o espaço, desconstruir o espaço arquitetónico.
O espelho, essa máquina de produção de duplos e de multiplicação de planos que altera radicalmente a perceção do espaço circundante, do peso e da escala de objetos e materiais, da relação entre interior e exterior consegue ilustrar exemplarmente a contradição que define, em grande medida, as suas obras: apesar do peso das matérias empregues, da utilização de materiais e processos industriais, como o ferro e o empilhamento, as esculturas parecem cada vez mais leves, precárias, instáveis e desmaterializadas.