A Associação de Andebol do
Algarve reuniu recentemente com representantes de clubes desportivos e
instituições particulares de solidariedade social para apresentar o
«ANDEspecial», um projeto inovador e ambicioso na senda do «Andebol4All» e que
tem como destinatários pessoas portadoras de algum tipo de deficiência intelectual.
Os primeiros passos estão a ser dados na ACASO de Olhão, mas o objetivo é
alargar o projeto a toda a região, assim se reúnam os apoios para tal.
Texto: Daniel Pina |
Fotografia: Daniel Pina
A ideia por detrás do «ANDEspecial» é que os clubes
desportivos alarguem os seus horizontes e atribuam uma dimensão mais humanista
à sua atividade do dia-a-dia, focando-se igualmente na população com
deficiência, neste caso intelectual. Em simultâneo, é desejável que as IPSS que
já desenvolvem um trabalho meritório nesta matéria incrementem a prática
desportiva dos seus utentes. Assim sendo, pegando nos fundamentos que estiveram
na origem do «Andebol4All», a Associação de Andebol do Algarve, a Federação de
Andebol de Portugal e a Associação Nacional de Desporto para a Deficiência
Intelectual uniram-se para implementar este projeto inovador na região
algarvia. “O Algarve já possui uma equipa de andebol para atletas em cadeira de
rodas, sediada na Casa do Povo de Messines, e com o apoio da AMAL, para fazer
face às dificuldades de transportes. Contudo, não nos devemos cingir apenas aos
quadros competitivos normais e é importante colocar estes utentes com
deficiência intelectual a fazer algo em termos desportivos”, explica João
Estrela, presidente da Associação de Andebol do Algarve, adiantando que há
outros projetos em mente para pessoas com deficiência auditiva, para reclusos e
para jovens com problemas de integração social.
Para tudo isto, como é sabido, são fundamentais as
parcerias, de resto, está praticamente tudo «inventado». “O problema é colocar
as coisas em prática e, se a associação se fechar em si própria, não se
consegue fazer nada. Temos que arranjar as pessoas certas para dinamizar os
projetos e, assim que começarmos a mostrar trabalho no terreno, é mais fácil
angariar apoios”, reconhece o dirigente, assim surgindo Ana Sofia Bexiga. “Lançámos
a primeira semente no encontro com os dirigentes dos clubes e das IPSS, agora,
é seguir em frente com persistência. Assim que tivermos três ou quatro equipas,
as pessoas vão acreditar mais no projeto e, com isso, aumentará o número de
utentes envolvidos”, afirma a coordenadora do «ANDEspecial» e «Andebol4All» no
Algarve.
Uma tarefa que, infelizmente, não se afigura fácil num país
que continua a consumir praticamente só futebol, bastando ver que Portugal foi
vice-campeão de andebol em cadeira de rodas há poucas semanas e quase não se
deu destaque nenhum à prestação da seleção das quinas na competição. “Se formos
aos pavilhões nos dias dos jogos, estão quase vazios, só vão os familiares e
amigos dos atletas. Por isso, é essencial encontrarmos pessoas motivadas e com
uma sensibilidade diferente, o que existe nas IPSS que trabalham com a
deficiência motora e intelectual”, considera Ana Sofia Bexiga, que é
funcionária na ACASO de Olhão.
Depois da reunião de apresentação do projeto que aconteceu em meados de dezembro, nova jornada de reflexão está marcada para janeiro, com IPSS e clubes juntos para se tentar definir uma estratégia e plano de atuação, mas João Estrela faz mea culpa e admite alguma dificuldades das associações em comunicar para o exterior o que é feito no quotidiano. “Mas sabemos que o futebol é mais fácil de vender pela comunicação social e que as restantes modalidades estão um bocado ao abandono. Veja-se que, quando a televisão transmite um jogo de futebol, paga à federação. Se quisermos que seja transmitido um jogo de andebol ou de basquetebol, têm que ser as federações a pagar às televisões”, revela o entrevistado. “A seleção nacional de andebol em cadeira de rodas foi vice-campeã europeia, do Algarve temos lá um atleta e a fisioterapeuta, e muito nos honra o trabalho que tem estado a ser desenvolvido pela Casa do Povo de Messines. Tem atletas de toda a região, treina duas vezes por semana e é um exemplo pelas valências que possui e pelo seu dinamismo”, destaca João Estrela.
Leia a entrevista completa em:
https://issuu.com/danielpina1975/docs/algarve_informativo__90