A ASMAL – Associação de Saúde Mental do Algarve assinala, em 2016, as suas bodas de prata, completando 25 anos a promover o apoio e a integração social da pessoa com problemas de saúde mental. Uma tarefa que não tem sido fácil, porque a saúde mental continua a ser encarada como o parente pobre dos cuidados de saúde, com respostas manifestamente insuficientes face às necessidades da população e com poucos financiamentos disponíveis para se avançar com novos projetos. Apesar disso, os responsáveis por esta IPSS mantêm a esperança num futuro melhor, até porque, segundo dados recentes, 1/3 dos portugueses sofre de algum tipo de doença mental.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: ASMAL

É no Loteamento Industrial de Loulé que se encontra a sede da ASMAL – Associação de Saúde Mental do Algarve, uma estrutura, de facto, imponente, com amplo espaço para a prossecução de várias valências, com particular destaque para o Centro de Educação, Formação e Integração Profissional do Algarve e para o Centro de Reabilitação Profissional. Contudo, embora tenha sido inaugurada em 2009, a colocação da primeira pedra data de 1997, seguindo-se um longo período à espera de financiamento para se avançar com a obra. A esta instalação juntaram-se, mais recentemente, dois Fórum Sócio Ocupacionais, um em Faro e outro em Almancil, e a Unidade de Vida Apoiada de Almancil.
Em todas as valências, o objetivo é o mesmo, apoiar e integrar socialmente as pessoas que sofram de problemas de saúde mental, mas isso implica uma batalha diária, com poucos meios, travada por técnicos e dirigentes com verdadeiro amor à camisola, garante Leonarda Silva, vice-presidente da Direção e Diretora Técnica da ASMAL, que dá como exemplo o doloroso processo até ficar concluída a obra do local onde decorria esta conversa. “Tínhamos projetado inicialmente dois edifícios, este da reabilitação profissional e, ao lado, um fórum sócio ocupacional, mas só conseguimos financiamento para um deles”, relata, acrescentando que a associação começou a sua atividade efetiva em 1991, ou seja, há precisamente um quarto de século.
Na génese da ASMAL esteve a consciência, por parte de um conjunto de técnicos e profissionais de saúde, da necessidade de se intervir na reabilitação pessoal e social de cidadãos com doenças mental, por falta de respostas adequadas na região. “As pessoas eram internadas no Centro de Saúde Mental e compensadas do ponto de vista clínico mas, depois, não havia uma estrutura de retaguarda que facultasse a componente da sua reabilitação e integração. O departamento respondia durante a fase aguda da doença mental, de evolução prolongada e tendencialmente crónica, as pessoas regressavam a casa e depois não existia um seguimento”, recorda Leonarda Silva, confirmando que a ASMAL foi fundada por um grupo multidisciplinar com psicólogos, psiquiatras, terapeutas ocupacionais, enfermeiros e assistentes sociais.
Doença de foro mental que é bem diferente de deficiência mental, cognitiva ou psicomotora, mas esta Instituição Particular de Solidariedade Social foi, no decorrer dos anos, alargando o âmbito da sua intervenção, de forma a abranger, também, pessoas com deficiências e incapacidades. “Convém lembrar que a doença mental pode surgir em qualquer idade e o mais comum é aparecer no final da adolescência e no início da idade adulta. Ninguém está livre de desenvolver uma doença mental e cada vez há mais casos em Portugal. Aliás, um estudo recente indica que um terço dos portugueses desenvolve, ao longo da sua vida, um tipo de doença mental”, indica, preocupada, falando em situações de esquizofrenia, psicoses maníaco-depressivas, depressões endógenas e outras. “Consegue-se uma compensação clínica através da psicofarmacologia e, depois, nós trabalhamos a parte da reabilitação pessoal, social e profissional, sempre que possível”, aponta a entrevistada.
Claro que, numa sociedade perfeita, esta responsabilidade recairia sobre o poder central mas, como se sabe, o Estado não tem capacidade de resposta para acudir a tantos necessitados e mesmo as IPSS existentes sentem tremendas dificuldades no terreno, sobretudo no que toca a estruturas residenciais. “No Algarve, há duas unidades de vida apoiada, duas residências para pessoas com doença mental de evolução prolongada, que não têm familiares ou cuja família não tem condições para cuidar delas, e estamos a falar de uma capacidade de internamento de 20 camas em cada uma. Temos uma lista de espera infindável para este tipo de resposta”, reconhece Leonarda Silva, adiantando que a ASMAL está a tentar implementar uma unidade residencial no barlavento algarvio, possuindo, inclusive, um terreno para esse efeito em Lagos. “O problema é que estas respostas convêm serem edificadas de raiz para cumprirem com todos os requisitos preconizados na lei e estamos a tentar obter fontes de financiamento para arrancar com a obra”.
Escassez de respostas que se notam também ao nível da infância e adolescência, não existindo nenhuma estrutura deste tipo no Algarve. Isto apesar de a ASMAL ter já construído, junto à sua sede, no Loteamento Industrial de Loulé, uma unidade socio ocupacional para jovens dos 13 aos 17 anos. “Obtivemos meios financeiros através do PRODER, edificamos, possui todo o equipamento necessário para iniciar o seu funcionamento, temos técnicos com formação específica para esse tipo de público e ainda não conseguimos estabelecer um apoio de colaboração para abrirmos as portas”, revela.