O Teatro Experimental de
Lagos estreia, no dia 28 de outubro, «Lobo Vermelho», um espetáculo de narração
oral, música e teatro onde a conhecida história do Capuchinho Vermelho é
analisada de todas as perspetivas possíveis e imagináveis. Interpretada por
Nelda Magalhães e Bruno Batista, com música ao vivo a cargo de Carlos Norton, a
peça promete encantar miúdos e graúdos, com a certeza de que as peripécias da
simpática menina vestida de vermelho a caminho da casa da avó nunca mais serão
vistas da mesma forma.
Texto: Daniel Pina |
Fotografia: Fátima Vargas
A história desenrola-se numa serra algarvia, tendo como pano
de fundo um piquenique com três amigos (Nelda Magalhães, Bruno Batista e Carlos
Norton). À medida que os objetos despoletam memórias, o piquenique vai-se
transformando numa floresta, numa casa da avó, num trilho, transportando o
público para a conhecida aventura do capuchinho vermelho. O «Lobo Vermelho» é,
por isso, muito mais do que um simples espetáculo de narração oral, de música e
teatro, pois o conto imortalizado pelos irmãos Grimm é virado de pernas para o
ar, da frente para o avesso, olhado de todos os pontos de vista possíveis e
imaginários, com laços inusitados com a cultura algarvia, os seus costumes e
medos.
Deambulando por várias versões da história, os narradores,
Nelda Magalhães e Bruno Batista, dão eles próprios origem a novas versões num
disparate hilariante e inesperado que se dirige à infância, mas também às
famílias. E, com a improvisação e a performance criativa a andarem de mãos
dadas, joga-se com os significados e símbolos presentes nas histórias e na vida,
tendo a música como uma aliada valiosa na criação de situações, de memórias
sonoras e de estados de espírito, composta e interpretada ao vivo por Carlos
Norton.
Com base no estudo dos contos de fadas e da iconografia
presente nas ilustrações dos textos clássicos de Perrault e dos irmãos Grimm,
bem como nas reinterpretações que autores contemporâneos têm desenvolvido sobre
o tema, o propósito do Teatro Experimental de Lagos é refletir sobre o papel do
feminino na sociedade e o papel do masculino como ameaça à emancipação
feminina. “Pretendemos compreender a mutação simbológica que o conto tem
sofrido segundo a evolução da História da humanidade, bem como segundo as
perspetivas culturais que o abordam. O nosso objetivo será situar o conto na
contemporaneidade, a pertinência da sua atualidade e da sua função na
construção social e educativa da criança e do adulto do século XXI”, explica
Nelda Magalhães, a presidente da Associação do TEL.
Seguindo esta linha de análise, a dupla de atores debruça-se
sobre a semiologia das personagens e sobre o facto de o lobo ser constantemente
abordado nos contos como uma «ameaça» ao equilíbrio social. “Esta leitura é
feita desta forma em várias culturas, o que se deve, sobretudo, à forma
inteligente e organizada que o animal canídeo possui de ser marginal, de
conseguir subsistir em condições adversas e possuir o dom natural da adaptabilidade
ao meio circundante”, conta Nelda Magalhães, acrescentando que, no Algarve, o
lobo (no caso peninsular, o lobo ibérico), desapareceu entre as décadas de 30 e
50 do século XX, coincidindo com o surgimento do sector turístico na região. “E,
com a transumância balnear desde a década de 50 e suas novas abordagens ao
espaço social, chegam ao território algarvio novos «lobos», novos medos e
transformações na esfera do quotidiano, que transformam a sociedade algarvia
para sempre. Assim, o lobo ibérico passa de ameaça a vítima, assim como nos
dias de hoje sofre o lince ibérico, escondido nas serras do Algarve, lutando
pela sua sobrevivência de ex-predador e recente presa”, prossegue a dirigente e
atriz.
Depois de assistir ao «Lobo Vermelho», a história do Capuchinho
Vermelho, contada nos serões de casa, nunca mais vai ser a mesma. A peça
estreia no dia 28 de outubro, na sede do TEL, em Lagos, com sessões para
público escolar às 9h30, 11h e 14h30. No dia seguinte haverá duas sessões
abertas ao público em geral, às 16h e às 21h, antes de partir em digressão,
indo a cena, a 4, 5 e 6 de novembro, em Lisboa. «Lobo Vermelho» conta com os
apoios da Direção Regional da Cultura do Algarve, da Fundação INATEL, do
Instituto Português da Juventude e Desporto e Município de Lagos.
Leia a reportagem completa em:
https://issuu.com/danielpina1975/docs/algarve_informativo__80
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