A Câmara Municipal de Loulé apresentou, no dia 17 de outubro, uma coleção de quatro livros infantis sobre o desperdício alimentar, que serão distribuídos pelos alunos das escolas do 1.º Ciclo do concelho. A autarquia louletana pretende, com esta iniciativa, contribuir para a alteração de comportamentos relacionados com o desperdício alimentar, nomeadamente junto daqueles que serão os adultos do futuro.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

O desperdício alimentar é uma realidade cada vez mais conotada negativamente no nosso quotidiano, representando um problema global e transversal para o qual se apresenta fulcral definir e implementar medidas, bem como assumir compromissos que coloquem a sociedade no caminho do desperdício zero, ao longo de toda a cadeia alimentar, criando-se uma rede zero desperdício, com todas as entidades envolvidas, na disponibilização diária de produtos alimentares, associações de comércio e restauração, entidades oficiais, estabelecimentos turísticos, entre outros. Segundo a Food and Agriculture Organization (UNFAO) e a United Nations Environment Programme (UNEP), um terço da comida produzida, diariamente, em todo o mundo acaba no lixo, ou seja 1,3 milhões de toneladas por ano, quantidade suficiente para alimentar três mil milhões de pessoas diariamente.
Empenhado nesta causa, Loulé foi o primeiro município algarvio a associar-se ao Movimento Zero Desperdício, através da assinatura do protocolo com a Associação Dariacordar, em novembro de 2014, possibilitando redirecionar os alimentos para a alimentação humana, salvaguardando a qualidade, higiene e segurança alimentar, assumindo-se esta ação como um complemento às respostas sociais já existentes no Concelho. Foi ainda realizada uma cooperação com a Associação In Loco e o município de São Brás de Alportel, no âmbito do projeto «Não desperdice o nosso futuro! – uma aliança europeia de jovens e de autarcas no Ano Europeu para o Desenvolvimento», com o envolvimento das escolas. Desde então, o município louletano tem realizado ações concretas que já permitiram contribuir para redução do desperdício alimentar, entre as quais a associação ao Festival MED. Na edição deste ano do MED foi um total de 205,272 Kg de alimentos prontos a consumir.
Agora, numa iniciativa integrada nas Comemoração do Dia Mundial da Alimentação, a Câmara Municipal de Loulé apresentou, no dia 17 de outubro, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, uma coleção de quatro livros infantis sobre o desperdício alimentar, designadamente «O Tio Desafio» (Ana Maria Magalhães, Isabel Alçada e Carla Nazareth), «Confusão no Corredores dos Enlatados» (José Luís Peixoto e Catarina Bakker), «A Rita encolheu. E agora?» (Marta Hugon e António Jorge Gonçalves) e «A vida difícil de uma manteigueira» (Isabel Zambujal e Rodrigo Goulão de Sousa), que serão posteriormente entregues a todos os alunos das escolas do 1.º Ciclo. “São histórias, umas mais simples, outras mais complicadas, que explicam a importância de não se desperdiçar alimentos e, no dia-a-dia, devemos colocar no prato apenas aquilo que precisamos. São coisas simples que, se as começarmos a fazer de pequeninos, quando formos adultos vamos manter essas práticas. Não desperdiçar é aproveitar aquilo que está em bom estado e isso pode ser um alimento, um livro, as lentes dos óculos, peças de roupa”, apontou Paula Policarpo, da Associação Dariacordar, adiantando que, para breve, está o lançamento de outra coleção de livros, desta feita sobre alimentação saudável e sustentável.
Associação Dariacordar que foi criada, em 2011, por iniciativa do Comandante António Costa Pereira e que deu origem a um movimento de cidadania com o objetivo da consciencialização para a problemática do desperdício. “A lógica da economia circular é reaproveitar, reutilizar e manter na sua cadeia de valor os bens, as competências humanas, as terras, os edifícios. A única forma de nos mantermos cá é preocupar-nos, não só com a geração atual, mas com as futuras, e essas só sobreviverão se formos parcos na utilização dos recursos naturais do planeta e reutilizar tudo aquilo que tem valor”, reforçou Paula Policarpo.
Parceiro nesta coleção de livros é também a Associação In Loco, com Artur Filipe Gregório a contar às crianças, e aos adultos, presentes da sessão que só os alimentos que são deitados fora ainda em boas condições para serem ingeridos bastariam para acabar com a fome em Portugal. “Não é necessário produzir mais, basta aumentar a consciência da sociedade para este problema e assim reduzir o desperdício alimentar”, confirmou, lembrando que esse é precisamente um dos propósitos do projeto «Não desperdice o nosso futuro». “A Terra é um aquário, que tem lá dentro a água, a terra, os seres vivos, tudo num ambiente fechado. O problema é que estamos a fazer algumas asneiras, nuns sítios a deitar veneno para a água, noutros, a desperdiçá-la e, mais cedo ou mais tarde, vamos todos sofrer por causa disso”, alertou o elemento da direção da Associação In Loco. “O projeto tem vindo a trabalhar em três linhas de ação: sensibilização, informação e diagnóstico. É preciso conhecer claramente a dimensão do problema para se poder sensibilizar e informar as pessoas mais importantes para a sua resolução, e essas são as crianças, que serão os futuros presidentes de câmara e presidentes da República”.

Livros sobre a Identidade chegam em 2017


Com um Salão Nobre quase convertido numa sala de leitura infantil, Vítor Aleixo reforçou que Loulé é um município consciente dos seus deveres e responsabilidades para com as novas gerações, para com a comunidade em geral e a natureza. “O que estamos aqui a falar é de ética e é bom que esta palavra seja recuperada e introduzida no léxico de todos nós, porque é necessário que tenhamos a noção do que está certo e errado, do que é mau e bom, e essa não é uma tarefa simples”, reconheceu o presidente da Câmara Municipal de Loulé, que aderiu ao Movimento Zero Desperdício, em 2014, tendo estabelecido compromissos e definido um conjunto de objetivos, alguns deles já em curso.
Vítor Aleixo não escondeu a sua tristeza pelo desperdício que acontece na casa de cada um de nós e na economia que produz e distribui bens, daí o Município de Loulé ter aceite o convite da In Loco para participar no Movimento «Não Desperdice o Nosso Futuro». “Por aqui iremos caminhando, com a certeza de que isto, para nós, não é uma moda, mas sim uma atitude de permanência em relação ao futuro. Olhamos para o mundo e percebemos que há pessoas que compram mais do que aquilo que precisam e depois desperdiçam e que, bem ali ao lado, há outras pessoas que não têm acesso a esses bens, que passam fome. Isso é uma coisa brutal, que traz enorme sofrimento”, frisou o edil.
De acordo com o autarca, Loulé quer estar na linha da frente para que haja uma educação com ética nas gerações mais novas e uma atitude de responsabilidade relativamente ao uso do meio físico, que tem recursos finitos. “Estas crianças têm que perceber que é delas que depende termos um mundo mais habitável, mais bonito e mais justo”, defendeu Vítor Aleixo, aproveitando para revelar que, depois desta coleção de livros alusivos ao desperdício alimentar, em 2017 será a vez de livros de banda desenhada contarem a história a partir da origem da Vida, no município de Loulé, até à atualidade. “Entendemos que, no processo educativo das nossas crianças, a Identidade é algo que nos distingue dos outros e que nos leva a perceber que as diferenças fazem parte do género humano. Somos diferentes, mas todos respeitáveis nas nossas diferentes identidades”, concluiu o presidente da Câmara Municipal de Loulé.