Passada a euforia dos meses quentes de Verão, em que centenas de milhares de turistas trouxeram um fulgor acrescido à economia local, os empresários algarvios, nomeadamente os que vivem do comércio, serviços e restauração, viram agora baterias para o longo Inverno que se avizinha e, sobretudo, para o gigante IKEA que abre portas em março de 2017. Por isso mesmo, estivemos à conversa com Álvaro Viegas, presidente da ACRAL, para perceber como está o comércio tradicional no Algarve e quais as melhores armas para fazer frente aos desafios que se colocam a este exigente setor.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

A Direção da ACRAL – Associação do Comércio e Serviços da Região do Algarve esteve reunida com o Secretário de Estado Adjunto do Comércio para apresentar um memorando com ideias para a promoção e dinamização do comércio local e que poderão ser fundamentais para a capacitação e permanência no mercado do tecido empresarial algarvio, que é, como se sabe, maioritariamente constituído por Pequenas e Médias Empresas. Ao leme da associação está, desde março do corrente ano, Álvaro Viegas, que já tinha sido presidente da ACRAL entre 1999 e 2002, em defesa de cerca de três mil associados na área do comércio, serviços, restauração e, ultimamente, algumas atividades ligadas à agricultura e pescas, o que a torna na maior associação do Algarve e na segunda maior ao sul de Lisboa, apenas atrás da Associação de Comércio de Setúbal.
Com 17 funcionários em permanência, a ACRAL não se limita a organizar eventos de animação, desfiles de moda ou feiras de stock-out, como se possa imaginar à partida, precisamente por serem a faceta mais visível da entidade. “Temos vários departamentos, entre eles um de projetos e candidaturas, com três técnicos superiores a que podem recorrer, por exemplo, alguém que pretenda antecipar o seu subsídio de desemprego, uma vez que somos uma entidade acreditada pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional. Criamos a candidatura e o negócio e acompanhamos esse empresário nos primeiros dois anos de vida, por ser o período em que existe uma maior mortalidade de novas firmas”, revela Álvaro Viegas, falando também do Gabinete de Inserção Profissional, uma descentralização dos Centros de Emprego. “Se um empresário precisar de um trabalhador, pode-se dirigir à ACRAL e nós procuramos esse funcionário e colocamo-lo na empresa. Na situação inversa, recebemos esses pedidos de desempregados e conseguimos encontrar os postos de trabalho adequados aos seus perfis”.
A formação é outro serviço tradicional da ACRAL, assim como a fiscalidade e a assessoria jurídica, a que se somam o recém-criado Departamento de Higiene no Trabalho e Segurança Alimentar. Para além destes serviços, existe uma panóplia de parcerias com empresas de diversos ramos de atividade que proporcionam vários descontos aos sócios. “Depois, temos essa parte importante da animação, para conseguirmos que as nossas baixas comerciais tenham mais vida”, prossegue o dirigente, confirmando que, hoje, montar um negócio é um processo complexo e que não basta ter dinheiro, comprar uma loja e abrir portas para receber os clientes. “Criar uma empresa tornou-se relativamente fácil do ponto de vista jurídico-legal, o problema é saber que tipo de negócio é viável. É por isso que defendemos a criação do Balcão do Empreendedor, para ajudar o novo empresário a saber o que vender, como vender e onde vender, para além de o apoiar em todas as exigências legais que são necessárias cumprir antes de se abrir um estabelecimento comercial”.
Álvaro Viegas não tem dúvidas de que, nos tempos modernos, vender é uma verdadeira ciência e que não basta estar atrás do balcão à espera que os clientes entrem na loja. “Ou há dinamismo e uma alteração da própria mentalidade do empresário, ou o negócio está fadado ao insucesso. Não podemos continuar com os velhos horários de funcionamento das 9h às 13h e das 15h às 19h, face à concorrência das grandes superfícies com os seus horários alargados. Quem não perceber isso, morre”, garante o presidente da ACRAL, sem paninhos quentes. “Temos que nos adaptar às exigências do consumidor, e não o contrário. Dizia um político da nossa praça, e bem, que os portugueses, atualmente, não vão especificamente às compras. Vão dar uma volta e, durante o passeio, entram nos estabelecimentos comerciais se virem alguma coisa apetecível”, enfatiza.