Manuel Mestre, fundador e presidente do Clube
de Surf de Faro, foi um dos homenageados pela Autarquia de Faro no Dia do
Município que se assinalou a 7 de setembro. Uma distinção mais que justa para
um dirigente e pedagogo que muito tem feito pelo desporto na capital algarvia e
que não tem papas na língua quando não concorda com aquilo que vê, nomeadamente
com a falta de apoio, e de importância, que se continua a dar ao surf no Algarve,
sobretudo nas camadas de formação e na promoção externa.
Texto: Daniel Pina |
Fotografia: Clube de Surf de Faro
Os turistas do agosto algarvio já regressaram às suas
origens, mas isso não impede a Praia de Faro de continuar bastante ativa e para
isso muito contribui o Clube de Surf de Faro e as aulas que ministra
diariamente nas modalidades de surf, bodyboard e longboard. E foi precisamente
antes de uma aula de iniciação a visitantes espanhóis que estivemos à conversa
com Manuel Mestre, o «Necas», como é conhecido no mundo do surf, que viajou
mais de duas décadas no tempo para nos contar como começou esta aventura. Isto
porque, embora o Clube de Surf de Faro tenha sido legalmente constituído em
1996, já existia no terreno antes disso. “Até essa data, os subsídios
camarários e da Direção Geral dos Desportos não requeriam uma entidade
constituída, bastava um grupo de amigos apresentar um projeto para solicitar
apoios, que depois seriam ou não concedidos, como é normal. Para organizarmos
campeonatos a nível nacional também precisávamos ser uma entidade federada mas,
curiosamente, nós somos mais antigos que a própria Federação Portuguesa de
Surf”, relata o presidente.
Unidos pela paixão pela modalidade, Manuel Mestre criou,
então, o Clube de Surf de Faro em parceria com a esposa, Ana Lúcia Mestre, atualmente a
presidente da Assembleia-Geral, e da organização de provas regionais e
nacionais depressa se passou à formação de novos praticantes. “Eu tinha, em
1998, uma surf shop, uma das primeiras do país, e comecei a dar aulas a algumas
pessoas por uma questão de marketing. O meu primeiro grupo de alunos foram seis
meninas, no ano seguinte oficializamos a escola de surf e tem sido uma bola de
neve desde então”, indica Necas, não fazendo a mínima ideia do número de jovens
que já passaram pelo clube nestas quase duas décadas. “Em 2015, só nas Férias
Desportivas, estiverem aqui 977 crianças, dos quatro aos 16 anos, durante 11
semanas. Esse programa existe há 12 anos, portanto, já formámos milhares de
jovens, muitos deles continuaram na nossa escola de surf, alguns tornaram-se
campeões nacionais, e só deixaram de estar connosco na altura de irem para a
universidade”, reforça o entrevistado.
O Clube de Surf de Faro é, de facto, uma família para a qual
se entra bastante novo, ali se passa a adolescência, e dali saem homens e
mulheres para prosseguirem a sua formação académica no ensino superior. Apesar
disso, manter uma escola de surf a funcionar o ano inteiro não é fácil, até
porque este desporto está bastante associado ao Verão, à imagem de praia e
diversão, e não propriamente ao rigor de outras modalidades de alta competição.
“Uma coisa é estarmos num campo de futebol com os amigos a bater uma bola
contra uma baliza, outra coisa é querermos ser jogadores
amadores/semiprofissionais ou profissionais. No surf, quem opta pela competição
tem que se dedicar mais e treinar desportos complementares como a natação.
Aqueles que buscam apenas a vertente de lazer acabam por ficar à mesma no clube
durante muitos anos, acompanham-nos nas nossas surf trips e no dia-a-dia, mas
as rotinas são diferentes”, indica Manuel Mestre.
Como em qualquer associação ou clube desportivo, a gestão
financeira é a principal dor-de-cabeça dos dirigentes e o Clube de Surf de Faro
não é uma exceção, sobretudo a partir do momento em que as autarquias e os
organismos estatais cortaram nos apoios, subsídios e contratos-programa, embora
continuassem a ajudar na vertente da logística. “Isso implicou uma mudança do
modelo de gestão do clube, não conseguíamos sobreviver só com as quotas dos
associados. Tivemos que nos adaptar para seguir em frente, investimos os nossos
fundos para continuarmos a evoluir e ainda recentemente fizemos obras nestas
instalações, que são cedidas pela Câmara Municipal de Faro há 10 anos. O
fundamental é que os sócios e quem nos visita se sintam confortáveis”, frisa.