Sedeada em Albufeira, a AIMM pretende ser uma
referência na investigação, educação e conservação de espécies marinhas do
Oceano Atlântico, identificando ameaças e minimizando os seus efeitos no
ambiente. Uma associação jovem, formada por quadros jovens e com formação
superior nesta área específica, reconhecida a nível internacional pelos maiores
especialistas do ramo e frequentemente procurada por investigadores para
realizarem as suas teses de mestrado e doutoramento em tudo o que envolve
cetáceos, nomeadamente golfinhos e baleias.
Texto: Daniel Pina |
Fotografia: AIMM
Formada em 2010, a AIMM - Associação para a Investigação do Meio
Marinho é uma organização não governamental e sem fins lucrativos com extensão
internacional, direcionada para a investigação e conservação de espécies
marinhas que habitam principalmente o Oceano Atlântico. No seu dia-a-dia conduz
trabalho de campo e recolhe dados para suportar estudos científicos, atualizar
os estatutos de conservação e conhecimentos das espécies marinhas e, em
particular, de mamíferos marinhos. Em paralelo, desenvolve programas de
educação e atividades e parcerias com agentes relacionados com o mar, de modo a
aumentar a consciência ambiental e compreensão do ambiente marinho.
Na génese da AIMM está Joana Castro, licenciada em Biologia
Marinha, Mestrada em Ecologia Marinha e com um Doutoramento em Biologia em
curso, que cedo constatou a existência de pouca investigação direcionada para a
área dos cetáceos em Portugal. Para além disso, o sul do país, apesar da enorme
variedade de espécies de baleias e golfinhos que aqui se localizam, não estava
a ser devidamente estudado em termos científicos. Assim, com uma carreira
profissional totalmente focada nestes cetáceos, meteu mãos à obra e decidiu
criar a AIMM com o intuito de desenvolver estudos científicos em toda a costa
algarvia, desde o Cabo de São Vicente até Vila Real de Santo António. “Mas foi
difícil porque, nas associações, normalmente há uma ligação mais emocional do
que nas empresas. Há uma paixão que nos move e, por isso, no início é tudo
muito bonito e as pessoas estão todas motivadas. Depois, de repente,
deparamo-nos com imensas barreiras, financeiras e burocráticas, e é preciso ter
força e vontade para não deixar cair o sonho”, salienta Joana Castro.
O reconhecimento e os apoios privados e públicos foram aparecendo
à medida que o trabalho ia sendo realizado, o que obriga a uma procura
constante de bolsas e a uma atenção contínua às candidaturas que abrem, já que
as ajudas das autarquias e dos organismos estatais muitas vezes limitam-se à
logística. Mesmo as bolsas provêm mais do estrangeiro, porque a aposta de
Portugal na ciência vai variando consoante as sensibilidades pessoais dos
titulares dos cargos. “Nestes últimos anos tem havido uma vantagem para quem
trabalha nesta área porque o país virou-se, efetivamente, para o potencial que
existe no mar, como se notou recentemente com a questão da extensão da
plataforma continental. Há muito interesse no mar, portanto, estamos a
atravessar uma fase positiva, mas continua a haver uma luta constante por
bolsas de investigação, que duram uns meses e depois acabam as ajudas”, reconhece
a presidente da AIMM.
Sendo o Algarve uma região muito atenta a esta matéria, e tendo a
Universidade do Algarve vários cursos vocacionados para o mar e para a
biologia, os recursos humanos acabam por surgir com naturalidade. Prova disso é
que a associação é frequentemente procurada por universitários, não só do
Algarve, mas de outras zonas do país e do estrangeiro, para ali realizarem
estágios. “A maior dificuldade prende-se em arranjar investigadores seniores,
porque nós somos todos voluntários e nem todos podem trabalhar sem uma
contrapartida financeira”, nota André Cid, biólogo marinho com Mestrado em
Aquacultura e Pescas e antigo guia de observação de golfinhos. “Para os
estudantes é uma excelente forma de ganhar experiência prática e currículo, até
para perceberem se é disto que realmente gostam. Muita gente tem aquela ideia
utópica e romântica do que é trabalhar com golfinhos no cativeiro, que depois
não tem nada a ver com lidar com golfinhos selvagens, no seu habitat natural. Alguns
entram no barco pela primeira vez e até enjoam”, contam Joana e André.