Depois de, em abril deste ano, ter esgotado o Teatro das Figuras em três noites consecutivas, Ana Moura volta ao Algarve para mais dois espetáculos, na FATACIL, em Lagoa, e no Festival F, em Faro. Na bagagem traz o seu mais recente disco «Moura» e é com um sorriso nos lábios e elevadas expetativas que regressa a uma região que sempre a acarinhou e recebeu de braços abertos.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Frederico Martins

Ainda faltam alguns dias para Ana Moura subir ao palco principal da FATACIL, em Lagoa, a 27 de agosto, ao que se segue, a 2 de setembro, novo concerto, desta feita no Festival F, de Faro, mas a ribatejana já aguarda com entusiasmo o seu regresso a terras algarvias, com a experiência do Teatro das Figuras ainda bem viva na memória. “Foram três datas de lotação esgotada e, mesmo assim, houve muita gente que não conseguiu ir, portanto, as expetativas são elevadas. O espetáculo também é um pouco diferente daqueles de abril, porque vai evoluindo ao longo da tournée”, refere a fadista, confirmando que o alinhamento dos dois concertos incidirá, sobretudo, sobre o álbum «Moura». “Como são ambos ao ar livre, serão dois espetáculos bastante festivos, com uma atmosfera excelente”.
Ao ar livre perante dezenas de milhares de pessoas ou em espaços fechados, sejam teatros ou auditórios, com o público a poucos metros de distância, todos os concertos são especiais para Ana Moura, com a artista a não conseguir dizer qual ambiente prefere. “Às vezes sabe-nos bem estarmos num teatro e fazer um repertório um pouco mais contido, mas as festas ao ar livre trazem outra alegria. São duas situações completamente distintas, as pessoas também reagem de forma diferente, e contagiamo-nos uns aos outros. Custa-me escolher um local onde me sinta mais à vontade”, aponta Ana Moura, que até começou pelos projetos de pop/rock, antes de começar a construir a sua carreira como fadista. “Em 2003, não imaginava que o meu percurso seria assim, embora houvesse algo dentro de mim que me dizia que poderia fazer isto para o resto da minha vida. Tinha um desejo enorme para que tal acontecesse, mas não pensava em nada desta dimensão”, confessa, mostrando-se extremamente feliz pelos seus discos colherem tamanha aceitação da parte do público.
Prova disso é que «Moura» alcançou recentemente o galardão de dupla platina ao fim de poucos meses de vida, estando a competir, no top das tabelas, precisamente com o seu anterior trabalho discográfico. Ao todo, são mais de 300 mil discos vendidos até à data, mais de uma dezena de galardões de onde se destacam dois Globos de Ouro, dois prémios Amália, uma nomeação para os Songlines Music Awards na categoria de Melhor Artista, participações com ícones da música Prince, The Rolling Stones, Caetano Veloso, Gilberto Gil ou Herbie Hancock. “É incrível porque o «Desfado» já saiu há quase quatro anos e nunca saiu do top, estando já com quíntupla platina”, salienta, comprovando-se que Ana Moura está, sem sombra de dúvida, num patamar bem superior à restante concorrência. “Temos que ser fiéis a nós próprios e respeitar os nossos impulsos porque, por vezes, há coisas que fazem parte das nossas influências e que queremos trazer para a nossa música e não há que ter receio de o tentar. Não existem almas iguais e é assim que nos distinguimos dos outros”, considera.  
Distinções que se fazem pelas melodias, mas também pelas letras, e a verdade é que não existem muitas pessoas a escreverem temas originais para fado, o que obriga muitos cantores a socorrerem-se de um repertório que existe há várias décadas. “O meu público é muito transversal e assisto com frequência a crianças a pedirem aos pais para irem aos meus concertos, uma situação que não acontecia há uns anos. Acho que isso acontece porque tenho convidado letristas que, embora não escrevendo letras que falem de fado, são temas que caracterizam o povo e a identidade portuguesa. Isso traz para as minhas músicas uma frescura que faz parte da nossa geração”, acredita a entrevistada.
Fado que também já não se resume à eterna saudade, até para cativar os mais novos, mas Ana Moura lembra que o fado, no século XIX, até era dançado. “Há fados tradicionais que são muito ritmados e com letras irónicas, com algum gozo à mistura, são bastante alegres. É esse lado mais festivo que tento trazer e, como somos um povo extremamente emotivo, vivemos todas as emoções com grande intensidade. Nós gostamos de nos divertir e quis resgatar essa ideia com o «Moura»”, explica, dando o exemplo de uma letra que diz: ‘se o fado se canta e chora, também se pode dançar’. E dançam os portugueses e os estrangeiros, mesmo que não compreendam as palavras, com o galardão de Património Imaterial da Humanidade a catapultar o fado para uma dimensão nunca antes atingida. “É algo que aceito com naturalidade, porque há uma emoção latente no fado que todos entendem, mas às vezes ainda fico surpreendida com a reação das pessoas. Estivemos há pouco tempo no México, naquelas cidades do México profundo, e foi engraçado ver aquele povo, que está longe de nós, a vibrar com o fado”, revela.
Entretanto, mesmo com dois discos no topo das tabelas nacionais, e quase sem tempo para respirar, Ana Moura garante que a veia criativa nunca está parada. “Há um pensamento constante do que se irá fazer no próximo álbum, gosto mesmo de fazer coisas diferentes, musicalmente falando. Neste momento, porém, a fase criativa está mais direcionada para a evolução dos concertos, porque vão surgindo ideias novas para se colocar em palco. Há pequenos detalhes que dão mais alegria nos espetáculos ao vivo e que servem para nos motivar a nós próprios enquanto artistas”, sublinha, ao mesmo tempo que reconhece que os fãs também estão sempre atentos a todos os detalhes do que vai acontecendo na vida dos seus ídolos. “As redes sociais e as fotografias com os fãs são parte da nossa geração, nós fazemos isso no nosso dia-a-dia, pelo que é só adaptar essa vertente à profissão”, finaliza, com um sorriso, deixando o convite para todos irem aos concertos da FATACIL e do Festival F.