«A Viagem de Peludim», de
Sara Rodi e Vânia Beliz, é mais do que um simples livro, é uma verdadeira
ferramenta em educação sexual direcionada para os mais jovens, designadamente
os alunos do 1.º ciclo, porque há que desconstruir certos mitos que se foram
instalando na sociedade nos últimos tempos. Não admira, por isso, que as
autoras andem constantemente numa roda-viva de norte a sul de Portugal, como
foi o caso de Vânia Beliz que, no fim-de-semana de 21 e 22 de maio, participou
em workshops e palestras em Albufeira, São Brás de Alportel e Portimão.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
Depois de participar num workshop em Albufeira da parte da
manhã do dia 21 de maio, Vânia Beliz rumou a São Brás de Alportel, onde iria
realizar uma palestra, à tarde, na Escola Secundária José Belchior Viegas. Consigo
trazia o livro «A Viagem de Peludim», do qual é coautora, em parceria com a
guionista Sara Rodi, sendo as ilustrações de Célia Fernandes, uma obra que
pretende suprir uma lacuna existente no mercado no segmento dos mais jovens.
“Sou funcionária pública numa autarquia, sempre estive ligada ao
acompanhamento, nas escolas, dos Projetos de Educação para a Saúde, e notava
que havia uma grande falta de materiais, de recursos para trabalhar estas
questões. Como achamos que determinados assuntos devem ser encarados o quanto
antes, decidimos avançar para o pré-escolar e para o 1.º ciclo”, explica a
Psicóloga Clínica, que tem igualmente uma Pós-Graduação em «Perturbações da
Ansiedade e do Medo» e um Mestrado em Sexologia.
A par da história de Peludim, o livro inclui uma vertente
mais dirigida aos pais, professores e educadores, com uma série de propostas
que como trabalhar os seus conteúdos, de como ajudar a explorar os temas e a
responder às perguntas que possam surgir. E isto porque, apesar de estarmos no
século XXI, o tema da Educação Sexual ainda não é pacífico e gera diversos
equívocos. “As pessoas ainda têm muita dificuldade em perceber o que é a Sexualidade
e associam-na simplesmente a uma das suas variáveis – a relação sexual – e isso
é uma grande limitação. A nossa sexualidade começa a partir do momento em que
nós existimos, mesmo sem termos nascido ainda”, esclarece a simpática
entrevistada, enquanto preparava as coisas para a palestra. “Os pais acabam
muitas vezes por projetar, naquele bebé que está a caminho, uma série de
fantasias de acordo até com o seu próprio género. Consoante seja um menino ou
uma menina, todo o universo é preparado para a chegada daquela criança”.
Vânia Beliz entende, assim, que todos os pais fazem Educação
Sexual de forma inconsciente e isso nota-se logo quando se começa a decorar o
quarto da criança, cor-de-rosa se for uma menina, azul se for um menino. “A
principal ocupação das crianças nos primeiros anos de vida é brincar e isso é
precisamente aquilo em que mais as limitamos, às vezes sem nos apercebermos.
Daí que uma parte do nosso livro incida sobre o «Quem Sou?», para ajudar os
pais e as crianças a refletir sobre esta necessidade de se dar liberdade de
escolha ao brincar e aos papéis que as crianças experimentam através das
brincadeiras”, indica, confirmando que refilar com uma filha por jogar à bola
ou com um filho por brincar com bonecas não é benéfico para as suas
autoestimas. “Sabemos que há muitas crianças que deixam de experimentar
determinadas coisas porque os pais lhes fecham esse universo, por medo, por
receio, porque foram educados assim, porque eles também não tiveram esse
espaço. Mas não queremos mudar a cabeça dos pais, simplesmente ajudá-los para
que os filhos tenham um futuro mais feliz”, esclarece.