É na freguesia de
Moncarapacho, concelho de Olhão, que se produz um dos melhores azeites do
mundo, o azeite virgem extra Monterosa, que recentemente conquistou as medalhas
de ouro e prata no «Olive Japan 2016», em Tóquio. No concurso participaram 600
azeites provenientes de 21 países, mas foram o «Frantoio», o «Cobrançosa», o «Maçanilha»,
o «Verdeal» e o «Picual» algarvios que brilharam mais forte e encheram de
orgulho esta empresa que, até há bem poucos anos, era mais conhecida pelas suas
plantas ornamentais.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Vasco Célio/Stills
Durante décadas, os Viveiros Monterosa, situados na
freguesia de Moncarapacho, no concelho de Olhão, cimentaram a sua presença no
mercado das plantas ornamentais, mas a marca tem andado na boca do mundo, nos
últimos anos, graças ao azeite virgem extra que produz e que tem arrebatado
medalhas de ouro e prata nos principais concursos internacionais. Curiosamente,
recuando à génese desta empresa, em 1969, a ideia era fazer hortaliças durante
o Inverno para exportar para os mercados do norte da Europa, à semelhança do
que acontecia na Califórnia (EUA), Israel e África do Sul. “Andei à procura de
um clima no sul da Europa onde pudesse arrancar com o negócio, a minha esposa
não gostou nem da Itália, nem de Espanha, e finalmente descobrimos o Algarve”,
recorda Detlev Von Rosen.
O clima e os terrenos eram ótimos, o sucesso foi imediato no
que toca à produção, contudo, a logística não funcionou, isto porque Portugal
vivia numa Ditadura, estava bastante fechado ao exterior e os camiões demoravam
vários dias até serem autorizados a atravessar a fronteira, o que levava ao
apodrecimento de muitos carregamentos. Por terra era complicado, tentou-se a
via área, que resultava, mas implicava custos de transporte demasiado elevados
para a rentabilidade do negócio. “Em 1972, por sorte, encontramos um produto
que estava na moda na época, a planta ornamental em vaso. Antes da guerra,
estas plantas não eram vendidas logo prontas, com valor decorativo, com flores
bonitas, ofereciam-se apenas as estacas para depois crescerem”, recorda o
sueco, adiantando que o clima do Algarve colocava os Viveiros Monterosa em
grande vantagem face à concorrência existente na Holanda, Dinamarca e Suécia.
“Eles faziam a produção toda em estufa, nós tínhamos condições para o fazer ao
ar livre, o que diminuía consideravelmente os custos”, justifica.
Entretanto, o Algarve «explodiu» para o turismo, mas Detlev
Von Rosen e os outros três sócios resistiram à tentação de largar a exploração
agrícola e vender os terrenos para ali se construir uma unidade hoteleira ou
campo de golfe. “A agricultura sempre foi a minha paixão, nunca tive grande
interesse em ser empresário de turismo”, justifica, ao mesmo tempo que confessa
que o premiado azeite virgem extra do Monterosa apareceu por simples acaso. “No
final da década de 90 tivemos anos de grande seca e nós precisamos de muita
água para as plantas ornamentais. Fizemos um estudo para ver onde é que
podíamos poupar água e verificamos que, nos 60 hectares de plantas que
tínhamos, a maior parte era consumida num laranjal que ocupava apenas seis
hectares e que já cá estava quando compramos a quinta”, conta o entrevistado. “Regávamos
cerca de mil copos de água por cada copo de sumo de laranja que se produzia,
portanto, arrancamos as árvores todas, mas o terreno ficava feio sem nada. A
Direção Regional de Agricultura do Algarve informou-nos que, se queríamos
gastar pouca água na rega, só havia quatro alternativas: figueira, amendoeira,
alfarrobeira e oliveira. Escolhemos a oliveira por acaso, plantamos as árvores
e só depois é que nos preocupamos com o que se poderia fazer com o seu fruto,
ou seja, com as azeitonas”.
À caça de informação, os empresários foram a Itália e
Espanha falar com especialistas e aperceberam-se que tinham entrado num mundo
bastante complexo e apaixonante. “O primeiro livro que li sobre esta matéria
foi escrito 20 anos A.C., pelo senador romano Marco Catão, que explicava em
pormenor como se plantar um olival. Vendíamos as azeitonas a uma empresa de
Tavira, mas tínhamos curiosidade em saber se era possível produzir azeite de
qualidade no Algarve, ao contrário do que toda a gente afirmava”, diz-nos Detlev
Von Rosen, lembrando que, até 2000, o azeite era visto de forma banal, como uma
simples gordura mediterrânica que poucos estrangeiros utilizavam no seu
dia-a-dia.