Depois do estreante Francisco Amaral, é a vez de dar a conhecer a faceta menos mediática de Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro e professor de matemática de formação e profissão. Um homem cuja grande vocação é o ensino – ao qual pretende regressar depois de terminada a sua missão como autarca – e um apaixonado pelas motos e pelo modo de vida motard, não estivéssemos nós numa cidade mundialmente famosa pela concentração organizada pelo Moto Clube de Faro. E se a sua Honda Deauville 700 tem tido menos uso desde que assumiu os destinos da capital de distrito, Rogério Bacalhau garante que tem algumas viagens em mente para quando a disponibilidade for maior, nomeadamente a Marrocos, a Rota dos Castelos, em França, e o Lés-a-Lés em Portugal.

Texto e Fotografia: Daniel Pina

A vida de autarca não tem horário fixo, nem feriados ou fins de semana, a de jornalista também não é muito diferente, portanto, na manhã de sábado, fomos ao encontro de Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro desde 2013, depois de já ter sido vice-presidente do antigo edil Macário Correia. Uma manhã em que a zona antiga da capital algarvia estava cheia de movimento, com várias excursões de espanhóis desejosos de conhecer melhor a história da cidade.
Abrigados do sol abrasador a beber um café, ficamos a saber que o professor de matemática de 53 anos nasceu em Paderne, no concelho de Albufeira, mas veio para Faro logo em criança por motivos profissionais do pai, que era agente da PSP, e dali a família nunca mais saiu. Estudou nas Escolas de São Luís e da Penha, seguiu-se a Afonso III e o Liceu de Faro, a passagem obrigatória por Coimbra para tirar a licenciatura e, de regresso ao Algarve, entrou para os quadros da Escola Secundária João de Deus, agora agrupamento. Professor de formação, refere que está na Câmara Municipal de Faro «de passagem», num espírito de missão e não com o intuito de fazer carreira na política. “É apenas uma fase da nossa vida, em que nos dispomos a trabalhar em prol dos outros, prestando um serviço público, 24 horas por dia, sete dias por semana. Um dia voltarei à minha profissão, ei-de reformar-me como professor de matemática”, assegura, embora reconheça que ninguém tem controlo absoluto sobre o futuro. “Estou aqui há seis anos e, há sete, nunca me passaria pela cabeça ser vice-presidente de uma câmara, e depois presidente. Mas gosto muito de ser professor e quero voltar a dar aulas, a ter contato com os alunos”.
Entrando no assunto central da conversa, o gosto pelas motos, conta que o pai lhe comprou uma bicicleta a pedal quando tinha 10 anos, cinco anos depois ofereceu-lhe uma Mobilete com pedais, banco em triângulo e uma grelha metálica atrás, na qual a esposa percorreu centenas de quilómetros. “Até ir estudar para Coimbra tive sempre motorizada, nos anos 80 ainda não havia grandes motos, depois vendia-a e enveredei pela minha vida profissional, mas com a promessa de que, quando fizesse 45 anos, compraria uma moto. Assim foi, adquiri uma Honda Deauville 700 com malas para poder andar com a minha mulher e voltei a ter o prazer de conviver com os meus amigos motards e de fazer passeios. Acima de tudo, dá-me um grande prazer sentir o cheiro das coisas e apreciar as paisagens, é uma sensação completamente diferente do que viajar de automóvel”, distingue.
Infelizmente, como se adivinha, o tempo para viagens tem sido escasso desde que entrou para a Câmara Municipal de Faro, mas permanecem na memória os tempos de rapaz e os passeios que dava com aquela que viria a ser a sua cara-metade. “Fazemos em dezembro 30 anos de casados e, antes disso, namoramos mais sete anos. Conhecia-a quando andávamos na Afonso III, começamos a namorar no Liceu e andávamos muito de motorizada. Enquanto eu ia num banco normal, ela ia na grelha atrás, bastante mais desconfortável mas, quando temos aquelas idades, não ligamos a isso”, recorda com um sorriso saudoso. “A subir a avenida, a meio tinha que dar duas pedaladas porque a motorizada perdia força, era de 50cc, mas dava para nos divertir-nos, para irmos ao campo e à praia. A sensação de liberdade, de termos uma mobilidade diferente da pedonal, eram importantes naquelas idades”.
Se as subidas eram desafiantes, perguntamos se, nas descidas, não acelerava um bocadinho mais para obrigar a namorada a agarrar-se com força a ele, imagem que despoleta uma risada em Rogério Bacalhau. “Todos nós brincávamos com essas situações, mas as velocidades eram bastante inferiores às de agora e nem se pode comparar o trânsito das duas épocas. Volta e meia caiamos, mas fazíamos tudo com mais segurança do que agora”, observa o edil, lamentando que nem toda a gente circule na via pública com o cuidado necessário. “No carro, temos um capacete à volta e, quando acontece um acidente, há sempre algo no meio, o que não significa que os perigos não sejam grandes também. Nas motos, essa proteção não existe”.