Que o Algarve é um berço privilegiado de projetos musicais já todos sabemos, a dificuldade às vezes é separar o trigo do joio. Desta feita fomos até Albufeira para conhecer melhor um daqueles que merece uma atenção redobrada, pela qualidade de execução, pela mensagem contida nas letras e por ser de um estilo menos comum, ou mediático, em Portugal, o reggae. Falamos de Ben & The Pirates, de Bernardo Carneiro, que se encontra a promover o álbum de estreia «Be Water» e com planos bem definidos para ir mais além, com passos graduais e firmes, sem pressas ou tentações de banalizar o que tocam e cantam. 

Texto: Daniel Pina
Fotografia: Mascanho 

A meio de novembro, as temperaturas continuam invejáveis em Albufeira, capital do turismo algarvio, o sol brilha forte, as esplanadas dos cafés estão preenchidas de turistas e foi este o palco escolhido para conversar com um filho da terra, Bernardo Carneiro, 36 anos, dentista de profissão e músico de paixão, um amor cultivado e alimentado desde criança e que foi assumindo um peso cada vez maior na sua vida à medida que os anos foram passando. E se a saúde dos dentes é deveras importante, é a sua faceta de artista, de compositor, de cantor, que motivou a entrevista, um género de apresentação ao grande público do álbum «Be Water», de Ben & The Pirates.
Ben, como é fácil de adivinhar, é Bernardo, os piratas são amigos que foi fazendo ao longo do tempo e que se juntaram em torno deste projeto musical assente no reggae. Mas já lá vamos, convém primeiro saber de onde apareceu a veia musical do albufeirense. “Tive a sorte de crescer nos anos 80 com boa música e, nessa altura, havia bons programas dedicados a ela nas rádios e na televisão. Também tive o apoio da minha família, apesar de ninguém ser músico. Depois, gradualmente, e por minha conta e risco, segui uma vertente paralela à atividade profissional, mais como hobby, como uma forma de expiação do stress do dia-a-dia”, conta Bernardo, um autodidata que preferiu dedicar-se em exclusivo à guitarra ao invés de se dispersar por vários instrumentos.
Tímido por natureza, nunca teve as tradicionais bandas de liceu e a história podia ter ficado por aqui, ou nem sequer ter havido uma história, mas conheceu o conterrâneo João Frade quando regressou de Lisboa após ter concluído o curso de Medicina Dentária. “Começamos a ensaiar na desportiva, nasceu um projeto de covers e fizemos o circuito de bares de Albufeira, Vilamoura, Lagos e Portimão. Eu com a minha viola, o João na bateria, baixo e sintetizadores, e mais uns amigos, simplesmente para nos divertirmos”, recorda, ainda que sonhasse com a ideia de deixar o seu próprio legado musical onde evidenciasse as suas ideias, a sua forma de perceber o mundo, influenciados pelo lado mais científico e racional advindos da profissão de dentista. Porém, a tal timidez ia adiando o deitar cá para fora as suas mensagens e pensamentos.
Um lado criativo e uma sensibilidade artística que não são indiferentes a ter crescido perto do mar e cedo começou a escrever letras para músicas, mas longe do seu pensamento ser ele a cantá-las, a ir para a frente do palco, agarrar no microfone e tornar-se o centro das atenções. “Tiramos à sorte com as palhinhas quem seria o vocalista e calhou-me a mim esse cargo. Como eles eram todos melhores instrumentistas do que eu e as letras eram minhas, empurraram-me para o papel de frontman, revela, ao que se seguiu um processo de aprendizagem do que era ser vocalista de uma banda. “A minha primeira experiência em palco foi quase um filme de terror, num concerto que o baterista arranjou numa casa de striptease e ao qual ele acabou por faltar. Mas o bichinho ficou e fui aprendendo as técnicas de como estar em palco e interagir com o público. Quando dominamos essas ferramentas, ganhamos mais confiança a cantar, perdemos a vergonha de falar com as pessoas e ficamos mais à vontade”, explica.