É um dos raros casos em que várias associações conseguem trabalhar em conjunto para dinamizar um mesmo espaço e com o objetivo de promover atividades culturais de diversas naturezas para públicos distintos. Sem problemas de egos pessoais ou rivalidades sem sentido, acabaram por ser pormenores logísticos e questões administrativas que atrasaram o arranque de um local que pretendia trazer algo de novo ao centro histórico de Faro e foi apenas em julho que o Q Espaço Cultural abriu portas. Contudo, apesar do sucesso alcançado neste projeto-piloto, a data do adeus já está definida, porque o antigo imóvel público foi, entretanto, adquirido por privados e as portas são para encerrar no final de setembro. Espera-se agora que a semente do Q possa brotar noutro espaço, assim haja vontade do poder local e disponibilidade das associações envolvidas.


No centro histórico de Faro, numa lateral ao edifício da Câmara Municipal, fomos encontrar de portas abertas o Q Espaço Cultural onde antes se situava o Antigo Quintalão do Magistério Primário. O espaço dinamizado pela Associação de Designers do Sul, Ar Quente, Tertúlia Algarvia, Policromia, Cineclube de Faro e Sociedade Recreativa Artística Farense - Os Artistas tem por objetivo criar um polo de cultura e lazer na capital algarvia e surgiu na sequência de um desafio lançado pelo vice-presidente da autarquia, Paulo Santos, no início de 2015, conforme relata Rafael Lopes, presidente do Cineclube de Faro há quatro anos. “A junção e a coabitação de estruturas associativas e culturais não são uma coisa nova, mas também não é algo comum em Faro, embora houvesse essa ambição há largos anos. Essa ideia existiu no passado quando se quis saber o que fazer com espaços como a Fábrica da Cerveja e outros, mas ainda persiste um pouco o cenário de estruturas separadas, herméticas e muito fechadas sobre si mesmas”, lamenta, embora isso tenda a ser natural numa cidade caracterizada por uma enorme diversidade de associações culturais como é Faro.
Nesse contexto, o Q Espaço Cultural é um projeto-piloto, uma espécie de associação de associações que foi crescendo à medida que os contatos entre dirigentes iam avançando. “Claro que nunca é fácil conciliar as nossas vidas pessoais com estas atividades cívicas e culturais, havia que criar uma perspetiva comum, um organigrama, um modelo de como tudo iria funcionar, que tipo de iniciativas seriam dinamizadas e isso tudo demorou algum tempo”, recorda Rafael Lopes, de tal modo que, a certa altura, se decidiu trabalhar num modo comunitário e sem atividades sectoriais para simplificar todo o processo. “O que idealizamos e temos posto em prática é, no fundo, uma estrutura comum e única constituída por seis associações diferentes e pelas pessoas que lhe são afetas”.
Seis associações que foram, na essência, as convidadas para abraçar o projeto e mais não foram consideradas porque isso iria atrasar ainda mais a abertura de portas. “Definimos um conjunto de áreas chaves, mas o Q sempre foi um projeto aberto a quem quisesse participar. As seis associações são apenas a cabeça, o núcleo duro, estamos disponíveis a acolher outras entidades”, garante Rafael Lopes, recordando que a Amarelarte também dinamizou uma escola de circo como ocupação de tempos livres para os mais novos, mas depois não ficou na estrutura fixa. “O objetivo sempre foi funcionar apenas durante o Verão, mas abrir só em meados de julho foi o resultado das coisas se irem arrastando. Não houve uma grande intervenção nas estruturas físicas do espaço, pois funcionaram cá serviços camarários até finais de 2014, mas, na área aberta, foram crescendo aqui imensas coisas nestes seis meses. Houve um trabalho forte na desmatagem, para o que contámos com o apoio da câmara municipal, depois, foi instalar iluminação exterior e algumas estruturas de apoio, o que durou duas ou três semanas”, conta.

Texto e Fotografia: Daniel Pina