Zeca Afonso é um nome incontornável da música portuguesa, o primeiro cantautor, verdadeiro rei da world music, numa época onde tais rótulos ainda nem sequer existiam. Muitos foram os artistas e bandas que desde então lhe têm prestado homenagem e vários são os tributos editados em disco, com roupagens mais modernas. Mas, como tudo na vida, há tributos e há Tributos e ninguém melhor que Luís Galrito tem mantido vivas a sonoridade e mensagens de Zeca Afonso. E que falta faz a música de intervenção para despertar os portugueses para as duras realidades que, por vezes, optam por ignorar, anestesiados que andam pelas novelas, concursos televisivos e peripécias futebolísticas.


Luís Galrito tem uma tranquilidade na sua forma de estar e um timbre de voz que deixam logo adivinhar que é alentejano e não nos enganamos, pois nasceu em Reguengos de Monsaraz, se bem que tenha ido ainda jovem para Fronteira, distrito de Portalegre. Professor de Educação Musical com 41 anos, está radicado no Algarve há 15 anos, mas antes disso andou pelo centro e norte do país, como acontece com tantos docentes até ficarem colocados num quadro de zona. Entretanto, casou-se com uma Louletana, da qual tem uma filha de dois anos, e não mais pensa sair do Algarve.
A música apareceu naturalmente na vida de Luís Galrito e frequentou o Conservatório de Portalegre dos 15 aos 18 anos, seguindo as influências dos pais e de outros familiares, sobretudo do lado materno. Por volta dessa altura teve a sua primeira banda, de covers, mas depois seguiu para a Escola Superior de Educação, na Guarda. “A minha vontade era ser só músico, mas depressa percebi que não era uma vida estável e os meus pais e professores também me aconselhavam a ter outra atividade em paralelo. Nunca tinha pensado em ser professor, mas via o exemplo de alguns primos que tinham dois trabalhos para se orientarem, e eles eram do canto lírico e da música clássica, ainda era mais complicado”, explica, num dedo de conversa no Café Calcinha, em Loulé.
Na época dos mini concursos, Luís Galrito nunca sabia onde ia dar aulas no ano seguinte, mas ia compondo os seus originais e, com 20 e poucos anos, editou um trabalho marcante em termos de conteúdo e de mensagem, o «Véu Vermelho». “Foi uma coisa que comecei a escrever aos 15 anos quando entrei para o Conservatório e tornou-se um disco de culto na minha terra. A banda que tive tocava um pouco de tudo, desde pop/rock a música de baile, porque o mercado da zona funcionava à base de festas de finalistas e bailaricos”, refere, acrescentando que as suas primeiras influências foram bandas como Pink Floyd e Beetles.
Cantores portugueses só conheceu melhor durante a universidade, admite, casos de Zeca Afonso, Sérgio Godinho e Jorge Palma. “Desde cedo compreendi que a música, para mim, tinha que funcionar um pouco como uma ferramenta para contribuir para qualquer coisa. Passava horas a ver os vídeos dos concertos da Amnistia Internacional com o Peter Gabriel, Bruce Springsteen e Sting, com as suas canções ativistas sobre os direitos humanos”, lembra, revelando ainda que cantar em português faz muito mais sentido para ele do que em inglês. 

Texto e Fotografia: Daniel Pina
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